domingo, 28 de fevereiro de 2021

Cartões velhinhos velhinhos (e até fotos velhinhas)

No caderno deixo colados dois cartões de um antigamente onde as burocracias eram tão diferentes das d' agora que quase dói. Quem sabe a posteridade onde viverá a minha descendência possa apreciar com que meios se movia esta que ao presente vos escreve.

Um cartão é de uma biblioteca itinerária que cirandava pelas ruas de Lisboa, distribuindo leitura pelos interessados. Na altura eu era deveras interessada em ler, não me encontrava ainda nesta desorganização mental que me tem acompanhado nos últimos anos. Se bem me lembro, e sei que não lembro bem mas vá, a carrinha abarrotada de livros de muitos géneros literários vinha de mês a mês. Se a gente tivesse lido tudo, devolvíamos o que tivéssemos requisitado e escolhíamos outros. Ou então não. E estou na segunda pessoa do plural porque os ricos filhos também tinham cartão. Ou talvez só a rica filha, que, a essa data, o rico filho era ainda piriri demais para ler, é o que me está a parecer. Bom, seja lá como for, o cartão está inválido, não por a foto que lá consta ser de uma Gina com quase metade da idade que tem agora, mas porque a carrinha, ou já não circula de todo, ou então, e pelo menos, não a tenho visto vai para muitos anos. Deixo ainda duas curiosidades: o meu número de leitor é o 2771 e a validade (vi agora que afinal há validade no cartão) era até 2002. Estes números constam num selo que foi colado por cima de um outro que diz ser de 2001. E assim se pode ver a idade que isto tem.

O outro cartão é um passe social. Tem um quarto de século de emitido. É do tempo em que vim morar para esta casa e me tinha que deslocar de camioneta até Lisboa para trabalhar no velho estaminé. Sim, nessa altura já lá trabalhava. Sim, a gente aqui, na saloiada, diz camioneta. O meu número de assinante é o 5035440, e assim se pode ver os saloios que para aqui havia. É claro que não é bem bem bem assim, vá, eu sei, é que, à data, era esse o número de pessoas que já se haviam inscrito na empresa de transportes ao longo de décadas. O selo que lá está é de Dezembro de 1997, foi esse o último mês que viajei para o velho estaminé nessas condições. Desde Janeiro de 1998 que uso viaturas próprias para essas deslocações. E também para outras. Às vezes vou só ali. Outras vezes vou muito longe.

Loures, Outubro 2009
Spiaggia Nera, Setembro 2013

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