Escolhi mal o carrinho de compras. Na verdade a escolha foi feita por um acaso diferente daqueles acasos de a gente escolher a fila – isso sim - e tirar o carrinho que está a jeito de sair – o que não é porra de escolha nenhuma, é mas é o mais rápido ou prático. Mas escolhi mal, dizia eu, porque vi um carrinho abandonado, deslargado de filas, no meio do parque e já com moedinha. Era desalinhado, o que está dentro do meu mais comum viver – desde quando é que não me calha um carrinho desalinhado? – mas, mais que isso, era aleijado, sei lá por que caso ou figura, as ranhuras das rodas não agarraram as da passadeira, não estacou, não fez clique. Fui então deixá-lo na fila ao lado da fila de onde retirei outro. Alinhado. Capaz.
O parque estava bastante preenchido de carros. O supermercado estava bastante desafogado de pessoas. Espantei-me. Gloriosamente, claro. Não gosto de ir ao supermercado 'migos, essa é a verdade.
Um vinho alentejano de nome 'planura' só pode ser bom.
A caixeira que me calhou - a melhor, que sortuda sou – demorou imenso tempo a tentar perceber se 'erdbeere' quereria dizer morangos. É que essa palavra está na embalagem. Ainda que a origem dos morangos seja do país vizinho, temos o morango em quatro línguas – fresas, de los hermanos; strawberry, from the british people; fraise, des gaulois; erdbeere, de sei lá eu, mas posso pesquisar... é germânico. Esta senhora comentou, também, os kiwis que eu escolhera, em modo apreciativo. Noutra espécie de fruta, quatro maçãs pink lady que vinham numa caixinha amorosa, procurou exaustivamente pelo código de barras, pedindo permissão para abri-la, não fosse as lisitnhas estarem lá dentro, e não estavam. Decidiu-se pelo último reduto, telefonar à assistente. Sorte a de quem tem uma 'coisa' destas. Eu tenho, chama-se 'ok Google'.
Comprei muitas outras coisas, nomeadamente uma manteiga de cabra, que sabe a leite ou então a queijo de cabra. Bem sei que não é estranheza nenhuma, ora essa, o que me baratinou é que a manteiga mais comum nos meus dias não me sabe a leite de vaca nem a queijo de vaca. Tornando à de cabra, não é má, é até boa, mas insossa. Acho graça à cor, que é branca. Se vista num repente lembra banha.
Ainda não contei que há muuuuuuuito tempo que não ia ao supermercado nestas condições, as do desde sempre, a última foi na véspera de Natal. Na ida não ouvi a canção do costume, não me apeteceu, ouvi-a à vinda, porque me apeteceu.
Na hora de retirar um dos sacalhões de dentro do carro, o que estava aos pés do pendura, uma das garrafas de vinho, precisamente o 'planura', resvalou, embateu e rolou pelo chão o suficiente para se pôr – precisamente, oh vejam lá - debaixo do carro. Miraculosamente, não se partiu, fazendo-me crer, por uns segundos, na existência do deus do vinho. É bem verdade que me ajoelhei, mas foi para alcançar o protegido.
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