quinta-feira, 5 de maio de 2016

Único

Bom dia. São dez e trinta e quatro. Hoje jogo para aqui os postzinhos de seguida e quês. É-me imprescindível escrever. Que se lixe o resto. Quero dizer: não se lixe o resto, que o resto faz-me escrever. São contradições. As do costume, as outras, ou outras. Diz (eu) que os balanços, as tontices, são pulos que dou. Diz (eu) que são pipocas aos pulos. Quando esta que escreve não escreve. Apelo ao leitor, eu (note-se o pronome pessoal) apelei aos leitores, e foi coisa tão mas tão difícil de fazer... Quero respostas mas vai que não as quero esperar para não sofrer. O número do apelo era o seis, seis, seis, o da besta, ui e ai. Sonhei que aviava um freguês com dois produtos em pó, eu a pesar, a usar a balança para aviar, só mesmo em sonhos, que o avulso já não há. Mas eram dois produtos para o mesmo saco, o freguês dizendo que não fazia mal misturar, misturei e depois o homem já não quis. Refilei: pois, mas agora já misturei! E vai que no sonho lembrei-me dum filme da Cinderela que vi em tempos onde um dos castigos que a horrenda madrasta deu à benévola menina era separar grãos de milho e de trigo, que a maquiavélica madrasta jogara no chão já com o propósito de castigar a serena menina. Fiquei furiosa com o homem, no meu sonho, já a Cinderela, naquele filme, não. Sonhei outras coisas também mas jão... ai perdão, já não malembra deles, sei contudo que têm um fundo de espera entediante e ansiosa, como são todas as pesperas... ai perdão, esperas. Olá Luisinha, dizem lá fora. É mesmo inha, é pequenininha. Fiquei com a ponta do casaco presa numa gaveta. Eu a querer sair. E não. Queria vir escrever a Luisinha. E não, mas já escrevi, ora pois. Está bem, vá, há chuva no ar e no chão. Será que no chão se chama chuva? É chuva que cai e fica no chão, portanto é chuva, uma infiltra-se onde apanha lugar, outra evapora. Carro a sair do estacionamento, carro na via esperando manobra. Lenta, lenta. Carro na via não esperava manobra, afinal. Dia da Cortesia no trÂnsityo... ai perdão, Trânsito, disseram na rAdio... ai perdão Tadio... ai perdão, Radio. Tão fofos, os senhores condutores, qual corteses, qual quÊ... ai perdão, quê. Já não sei se no outro dia pus pópâpe ou pinâpe nas meninas do lenço de assoar, é que era pinâpe. E nem sei se são pinâpe, afinal, são meninas, isso são, vestidas com um fato-de-banho a lembrar os marinheiros, isso estão, têm boina e tudo, isso têm, é desenho animado mas estão paradas a bater a pala, isso estão e estão. Os lenços de assoar das meninas (que não sei se são) pinâpe acabaram. Não que o pingo no e do nariz me tenha acabado com este assunto, que eu tenho para ali uma imagem das meninas que digitalizei antes de encharcar o último na enga de ilustrar o assunto, mas se este post não vai ter imagens, então guardo os pixeis para outro dia. A minha repelência é estupidamente eficaz, tanto que peço para ficarem. É pedir, não é exigir ou implorar. Quando muito pode ser sugerir, mas também não é. É pedir. Nunca vou compreender isto, não tenho essa esperança. Eu quero que fiquem mas não quero, mais dum que doutro, numas vezes sim e noutras não. Anda-me aqui todo um rol de artigos que retirei da montra. Ao início deste post referi que se lixe, por hoje me ser imprescindível escrever, era da feitura das montras que eu estava a falar, então para ali estão as coisas, esperando. Me. Quando o meu pai telefona, pergunto: como estão? e ele resignado diz: oh filha!, e eu brinco: para ai estão, não é?, assim estão para ali as coisas que tirei da montra. Também é Dia da Espiga, hoje. Há pessoas com grandes cestos, cheios de raminhos que fizeram com esmero, presumo. São para vender, as espigas, os cestos não sei. Não acho mal de todo, afinal trabalharam, isso vale dinheiro, o que também se pode chamar de recompensa pelo esforço, mas impostos é que não é com eles, é esta a parte que acho mal, mas não acho mal de todo, portanto. A montra está feita, pus para lá tapetes de entrada, ceras, pacotes de lã d'aço, tapa-juntas em alumínio, azulejos de dez por dez centímetros num tom rosado, salmão, de peixe e é para o chão, já escrevi do chão hoje e continua a chover. Não é nada para o chão é para a parede e as paredes também recebem chuva, a minha cabeça também já a recebeu hoje, e as mãos. E até a roupa e os sapatos mas esses interessam menos. É meio-dia e quarenta e e um. Vou para a chuva não tarda e almoço pelo caminho. O senhor da frente sai do prédio de capuz metido. Vou ao Banco e a senhora de lá vai perguntar: quanto é?, prolongando imensamente o é, éééééé. Às vezes engano-me e troco os molhos de notas, é que os Bancos são dois, mas hoje é só um molho, portanto um só Banco. Quando acontece essa troca fica tudo bem na mesma. Ninguém é prejudicado, ninguém é beneficiado, ninguém ralha comigo. Não é que tenha muito em que pensar mas penso efetivamente muito e vai que troco molhos de notas. Grossísimos. Cada um, pá. Treze e quinze, da meile boxe itse empeti, da saunde ofe sailance. Cozido à Portuguesa. Ena. Três ou quatro garfadas de bolo de bolacha. Dois golos de água. Um café, ao depois de subir duas avenidas e atravessar uma praça e depositar um grossísimo molho de notas no Banco que é para ser e a senhora do Banco que pode ser uma qualquer, o epíteto que ofereço, ofereço-o a todas. A senhora do Banco d' hoje contou-me coisinhas da sua vida de senhora do Banco, sério, só por dizer que não percebi porra nenhuma, sério, e vai que, como eram confissões, não pude esmiuçar o enredo e explorar as questões que me deixaram curiosa. Café no lugar (que também pode ser) da musa. Continua bom. Até nem tenho saudades do lugar da musa, aquele que mora nas primícias de ter lugares da musa na minha vida, mas é bom mudar de lugar da musa, muito bom. Ser ativista e reacionária é bom, ser passiva: igualmente. Eu deleito-me com a passividade. É bom, porque quando, sei que. A chuva caiu também no chapéu-de-chuva. Confesso que não gosto de chapéus desses, se a chuva é chuva durante muito tempo e eu tenha que manter-me debaixo dum desses durante todo o tempo que a chuva durar, então sucumbo, arfo, enjoo, choro, e começo a retirá-lo de cima de mim e a cabeça molha-se-me. Tive de desviar caminhopara encomendar pés de banco em branco, por isso foram-me lançados olhares e falas, que o homem não se lembrava de mim. Lembrava-se lá ele de mim e mais não sei o quê. Despedi-me secamente. Efeito bumerangue. Olha-me este, era só eu, não? Por desviar caminho ia perdendo o espectáculo que é a árvore amarela, quando está verde e lhe são ainda jovens as folhas, debaixo de chuva miúda e espaçada. Ia perdendo. Desviei caminho do caminho que já tinha desviado para não perder a vista. Mas tudo molhado ao derredor, claro, nada de me sentar aqui ou ali, que é lá isso. Uma senhora envergava um chapéu-de-chuva dum estranho formato, parecia assim o alto da Praça de Touros do Campo Pequeno, o telhado...? Aquela parte em azul-claro, pronto, e vai que esta parte do post está colorida. A gabardina dela era cor-de-laranja, portanto cor de abóbora, para entrosar com bruxas e tal, e vai que ainda vigoram as cores, quero dizer: mais ou menos, que já meti as bruxas mas adiante, e vai que ela parecia mas era uma bruxa. Das boas. Que as há. Tinha um semblante afável e quês e nem tinha verruga nenhuma, portanto só podia ser uma bruxa das boas. A aula de Pilates d' ontem foi tão boa como a outra antes dessa, lá estava a tal senhora professora, que o senhor professor do costume anda a dar atenção à família lá de casa. Fiz-lhe saber: gostei muito da sua aula do outro dia. Ela sorriu e agradeceu num modo simples, baixinho, um obrigada num fiozinho, ténue. Era a timidez. Depois, como estávamos só as duas, ainda, na sala, perguntou-me: já fez isto?, sendo que o 'isto' era encostar as costas à parede e rolar uma bola mole entre as as costas e a parede. Eu hoje não me preocupo com repetições. Repete lá. Nem uso as expressões do costume. É, não é. Tenho de meter tiques diferentes no texto, mostrar-me que posso mudar, qual passividade, qual quê. Às vezes... pois que não. Reinvenção de mim mesma. Criatividade. Não é bom?, perguntou ela, depois de eu rolar as costas por sobre a bola mole, não, a bola mole por sobre as costas, não, a bola mole por entre as costas e a parede. É muito bom, disse eu sem refletir muito. Mas foi mesmo muito bom, agora, refletindo, percebo que foi. As pessoas começaram todas a chegar e fomos à aula. Dezoito e dezoito, agora, bazo daqui não tarda. Este fim de dia não conterá triângulos em carreirinha, preenchendo espaços, acompanhando papelinhos de três por quatro centímetros, mas sem de verdade acompanhar, que os triângulos não chegam a tanto do que os papelinhos preenchem. Tampouco conterá calças de ganga, lembrando quão diva sou, eu e o triângulo no bolso direito das calças. A concluir: breine setorme - tempestade cerebral - devia fazer uma coisa dessas, daquelas a sério, a ver se. Não, melhor: o blogue é uma coisa dessas e o blogue é melhor do que eu.

4 comentários:

  1. Gosto muito do que escreve e dos seus vídeos. Há qualquer coisa de muito diferente em si e eu simpatizo com isso. Ou seja, consigo.

    Um dia feliz para si, Gina G.

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  2. Obrigada, Um Jeito Manso. Feliz noite para si, é que já é de noite, só agora lhe pude responder. :)

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  3. Sabes o que me soou em pensamento quando acabei de ler este post?
    Tóin xirú!
    (ficou bem, não ficou?) :-)

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  4. Ficou extraordinário. Esse tipo de reação por parte dos leitores é boa que se farta, quero eu dizer catrapiscarem as minhas expressões e isso assim. Muito bom.

    Outra coisa:
    Gostava de ter um email teu, é que não descobri nenhum no teu perfil. Querendo enviar-mo, fá-lo para: ginagrangeia@msn.com

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