sábado, 8 de fevereiro de 2020

Gina, numa relação com o supermercado.

Olá, bom dia! Daqui torre de comando número 1. Apanhei um acidente, ocorrido num entroncamento e com a participação de um veículo ligeiro e outro de passageiros. Pelo que vi, concluí que o ligeiro se havia despistado por conta da curva e do piso molhado, vindo embater no de passageiros que estava na sua mão e acabadinho de entroncar na via que escolhera como rota. Ora bem, a questão toda é que ficou um espacinho de nada para que esta que vos escreve conseguisse passar e ir à sua vidinha – mas consegui, passei e fui. Lamentei que não tivesse dado conta do acidente a tempo de mudar, por minha vez, a rota que não escolhera como primeira. Mas pronto, lá fui, e sem risco nenhum na pintura do meu automóvel de matrícula portuguesa. Ademais, rerreparei (ó pá tóin xiru!) que tinha o óculo traseiro embaciado, portanto: manobras de marcha atrás seriam estafantes com menos um espelho que retrovisasse (ó pá tóin xiru!). Metros à frente reparei que um rapaz estava na paragem de autocarro e aí lamentei mas foi a sua vidinha, que a minha o momento encontrava-se bem. É que, notem, eu, naquele momento, era sabedora que o autocarro não viria tão cedo, ele não.

Sou desorganizada, lá isso sou, levo telefone na mão (porque estou a precisar dele), moeda na mão (para o carrinho de compras), sacalhões debaixo do braço, mochila pendente (porque é já a seguir que a vou encaixar no lugar das crianças que há nos carrinhos de compras, digo eu a mochila mas também os sacalhões), trato de escolher o carrinho e a coisa até nem melhora nada, afinal vou ter que empurrar o carrinho e há o telefone e há que perceber se quero a chave do carro ao pescoço ou na mochila e se quero pendurar o telefone ao pescoço ou então não e há que abrir o caderno onde está a lista de faltas. Achega: este último passo, o de abrir o caderno, é coisa que por vezes acontece lá para o meio das compras, penso eu, e precisamente, por ser desorganizada das ideias é que assim me acontece. Mas hoje, durante estes preparos todos, lembrei-me que as pessoas, e obviamente é no geral que falo, são assim.

Estive de roda das formas para bolos e vi umas giríssimas para os brownies – quadradas e baixas e revestidas com aquele material que as faz repelentes durante umas quantas vezes, mas isto até que se lhes comece a despegar o revestimento e se lhes comece a pegar a massa. Tenho cá em casa duas formas com este revestimento mas que foram concebidas para cozer queques – têm em si a forma já feita. Quando comprei, comprei logo duas porque
Primeiro, sou impulsiva e, ou, desgovernada e, ou, e lá está, desorganizada
Segundo, sei que nas massas para queques é comum saírem duas fornadas, de maneiras que, comprando duas, punha uma em cima e outra em baixo, e do forno falo eu, e a meio trocava-as e pronto, assim não seria de todo desgovernada
Há ainda outra questão como que a inutilizar totalmente a existência destas formas na minha despensa, é que as concavidades para albergar os ditos queques são baixas e a base é mesmo piriri, portanto somente queques piriris fará, e, a juntar a isto, há uma discrepância por entre a base e a superfície, de modo que, se tiver optado por forminhas de papel, a superfície da forma é tão larga que a massa lá dentro não se sustem e derrama forno afora. E não é bonito. Nem bom. Nem cheira bem. Sim, já tentei.

Ah e coiso e venho eu dizer ao mundo que sou descoisas - desorganizada, desajeitada, destrambelhada – e depois passo com um carrinho de compras – também descoisas – desalinhado e que me desengonça o andar por entre um espacinho em cujas laterais se encontram prateleiras cheiinhas de peças quebráveis. E nada quebrei. Sou mesmo boa, afinal.

Passou por mim um grupo de jovens que claramente estavam chagados directamente de uma noitada – cheiravam a tabaco e a suor.

No corredor do material de escritório passei por um funcionário que repunha caixas com resmas de folhas de papel A4. Gemeu quando pousou a caixa na prateleira e vi-lhe o desconsolo nos gestos quando se dirigiu à palete para rerrepor (ó pá tóin xiru!) o restante. Animei-o, vocalmente e, mas, muda (sim, sou capaz desta proeza):
– Está quase 'migo. Força!

A senhora da caixa achou um piadão aos meus ramequins. Comprei tacinhas mas ela julgou-os ramequins porque viu a designação no ecrã. Mostrou-se tão espantada (algo por entre a fina ironia e o tolo gozo) com a palavra que lhe expliquei que ramequins são peças que podem ir ao forno e que é uma palavra francesa, mas que eu as tinha comprado para fazerem de tacinhas, nem reparando nessa especificidade. Depois foi ela que notou, uma vez mais atentando na designação que ia aparecendo no ecrã a cada bip do leitor, pois cada peça tinha o seu código, quiçá derivaria da cor e tal e tal, alvitrou, nem eu lhe desfiz o alvitre por não o considerar desarrazoado. Mas não, descobrimos que era mais uma coisa de textura do que de cor, havendo um, e vou só dar um exemplo, que tem a textura dos favos de mel e daí ser designado de honey não sei quê.
Quando viu as beterrabas (que seriam minhas passados minutos) contou-me que em tempos teve anemia e bebia muito sumo de beterraba com maçã verde. Fez logo anúncio: não gosto do sabor das beterrabas, crua então é que não vai. Contei-lhe que gosto de beterraba até crua, oh veja lá, e ela ai eu não!
Maçã verde é a famosa granny smith, a maçã dos doentes de colesterol e glicémia (ou outros índices quaisquer, sei lá, e ainda bem que não sei) e dos obcecados com as calorias e o peso na balança (ou mesmo com o colesterol e a glicémia, ainda que sem doença).

Chegada ao pé do meu automóvel de matrícula portuguesa notei que o óculo traseiro já não se encontrava embaciado. Quiçá precise dele, pensei. Mas não. Tive foi que me desviar de uma ambulância, lembro agora, vai daí deu jeito o óculo traseiro deixar ver a urgência e a pôr-se de lado de quem estava aflito e a fazer de grande ajuda à vida. Não fui eu, tá, foi o óculo traseiro e sua transparência.

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