domingo, 10 de janeiro de 2021

10 de Janeiro*

4 Janeiro 2021
É melhor silenciar o blogue. Silenciar-me, quero eu dizer. O importante é silenciar-me, não propriamente o silêncio. Escrever é uma alavanca, um trampolim. Não é parvoíce nem exagero dizer que escrever me salva, é a verdade. E, se me salva, então eu que não pare. Só que às vezes não me apetece publicar os escritos, e é isso o que por ora acontece. Vai daí, mantenho o diário secreto *até que assim o queira.

5 Janeiro 2021
A cadela chegou do passeio e estacou junto ao prato da comida. Moveu a cabeça na minha direção e ficou a olhar-me, esperançada. Notei que o prato estava de resto, tinha lá dentro uma meia dúzia de pepitas de ração, de maneiras que a encorajei:
Então Olívia, que é isso? Não vês que tens comida no prato? Que esperas tu?
Fosse a minha cadela humana e este seria o momento de uma resposta vocal mas, não sendo, continuou a olhar para mim sem reservas de qualquer espécie. Não fiz caso e ela sucumbiu à escassez – melhor meia dúzia de pepitas do que zero pepitas, né? Eu não digo que a minha cadela seja esperta, mas também não digo que não é.
É Janeiro. É tempo de as árvores da avenida apresentarem as suas folhinhas minúsculas. Aqui no lbogue... ai perdão, blogue chamo-lhes penugem. Todos os anos venho cá dar a novidade. Pode este blogue estar pejado de repetições? Pode, claro que pode. Tenho para mim apenas uma regra: escrever do mesmo mas não o mesmo. Só não sei se a cumpro. 

6 Janeiro 2021
Ao almoço estava no restaurante um senhor (outro que não este aqui) que falou muito com o meu colega acerca das peripécias que 'um gajo faz quando é novo' e mais não sei o quê. Este compincha de que falo não é o mesmo que há tempos apresentei no blogue, ai não é não, só que este aqui me fez lembrar esse dali. Então, no meio daquela balbúrdia de frases saudosistas, imaginei-me numa mesa de quatro - eu (óbvio!), o meu colega (hum), o primeiro senhor deste post (oh não...) e o senhor repescado do outro post (vá, pode ser...) – a gente todos a conversar em cruzes, o meu colega com o senhor nº1 a mandar as larachas e a rir aos bués, eu com o senhor nº2, sendo que nós falávamos entusiasticamente (por exemplo) de robótica ou aquacultura, passando (ainda, e um nadinha) pela política e futebóis, não afastados de pleno saber desses meandros. E pronto, era isto. Uma pessoa, quero eu dizer a! pessoa que escreve neste blogue às vezes ficciona uma beca.

7 Janeiro 2021
Há largos meses que não vejo a senhora. Na verdade pode parecer que a conheço, mas não, não se conhece alguém só porque se sabe quais são os livros que mantém na sua mesinha-de-cabeceira.
Lila, a cadela do corpanzil, chegou da rua. Quando é assim já sei: antes de me cumprimentar há que beber a litrosa do costume. Vá, passa, vai lá beber a tua águinha.
Miau, o gatinho amarelo, fez girezas:
Enfiou-se na máquina de secar – foi um problema tirá-lo de lá e, na verdade, não tirei, lembrei-me que, bazando, o levava a seguir-me, porque este bicho não é cão, mas segue-me amiúde
Lavou as orelhas – Lá está, segue-me. Eu enchia o balde debaixo da torneira da cozinha e ele empoleirou-se para observar. Porém, não contente com somente isso, espreitou a fundo, enfiou a cabeça para cheirar (acho que a água) e eis que pumba! O jacto estava no caminho, depois sacudiu-se e ficou pronto para o resto.
Intentou o impossível – 'Já não cabes debaixo do carrinho que desliza, Miau', avisei. Vezes houve, num passado próximo e quente (Verão 2020) que era com mil cuidados que retirava o carrinho do lugar, isto porque uma vez quase o trilhei.
À parte – Caraças, até parece que quero mal ao bicho, ele é pisá-lo, ele é fechá-lo na despensa e nem ligar ao pranto, ele assustá-lo propositadamente.
E, por falar em deslizar, nem só de bichos estou acompanhada. Há semanas que uma máquina fala comigo quando a deslizo para limpar lá debaixo. Ao repô-la, diz-me assim: 'Charging'. É categórica no tom e não permite retórica (ah... era só para rimar, mas ficou bem). Sim, digo dizer de falar, de voz. Eu explico, é um robô que aspira a casa mais ou menos sozinho e que tem um retiro onde se abastece de energia. Ora, o que faço quando a deslizo é, precisamente, retirá-la do retiro. Não, do posto de abastecimento. Contudo, desta vez, eis que o robô se resolveu a circular mais do que o seu costume. Como não sei o que fazer para acelerar o processo, pus-me atenta, não fosse ele para outra banda. Mas não, qual quê, aquilo tem um sinal forte, até ensina a estacionar. Fiquei a ver o robô a fazer as manobras necessárias, voltava atrás, rodava, ia para a frente. Enfim, todo um rol de ensinamentos que tive, eu que sou uma naba do caraças a estacionar o meu automóvel de matrícula portuguesa... 

8 Janeiro 2021
Aí acima, a digitação do primeiro 2 de 2021 o dedo escorregou-me e acrescentou um 1 logo seguido desse 2, perfazendo um assombroso, e até absurdo, ano de 21021. É curioso como um futuro com 19000 anos é inimaginável, lembrei-me eu.
A árvore amarela, vergar, não verga, mas está mirrada, tal o frio destes dias. O banco hater ainda é cinzento, a casa azul é azul e a cor-de-rosa é cor-de-rosa. A planta à janela estava à janela e os plátanos de grossíssimos troncos são ainda os maiores que conheço em Lisboa. Esta Lisboa de 2021. Não sei se repararam que tenho uma nova etiqueta no blogue, a 'Lisboa 2021'. Estipulei o ano passado, pelo Janeiro, que agruparia as Lisboas por anos, daí a novidade. São até bastantes, os posts acerca de Lisboa, por isso achei giro separar os anos. Acima disse que agruparia as Lisboas, aqui digo que as separo. Oh.

9 Janeiro 2021
Durante dois ou três meses copiei umas quantas perguntas de entrevistas que fui visionando e gravei um vídeo a responder-me. É giro. Planeio um dia responder também em modo escrito e colocar aqui no blogue. Tenho é que deixar passar um bom bocado de tempo – para aí dois ou três meses, vá - tem que já estar tudo arrumado no esquecimento para que não me copie. Receio um pouco que confessar que copiei algo - neste caso: as tais perguntas - me faça parecer uma pessoa de má índole, ou, no mínimo, rebuscada, mas, na verdade, copiar tudo e todos não é o que mais se faz? É. E quantas vezes sem se dar por isso. No fundo no fundo – a repetição é propositada – difiro dos demais, se afinal copiadora me confesso.

10 Janeiro 2021
Vi paisagens bonitas mas não tive vontade de fotografar nenhuma. Uma paisagem mostrou-me um céu azul em fundo, ao perto uma correnteza de caniços com plumas adejando e, de permeio, uma árvore nua. A árvore recortava o céu e os caniços mais suas plumas também. Uma longe, outros perto e, de poesia acerca disto, não sei. Tivesse-la sentido e teria vontade de fotografar? Também não sei.

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