Andei de volta de mais roupinhas primaveris. Blusas, hoje, só. Experimentei umas quantas e não curti nenhuma. Como tal dirigi-me à senhora que andava a arrumar prateleiras e mesas cheias de trapos no sentido de lhe perguntar se deixava as roupinhas que experimentara com tanto gosto e tanta desilusão tinham trazido à minha vida com ela e ela diz que sim num repente e arranca-me os trapos das mãos (faltam aqui vírgulas, não faltam?). Não curti. Não curti as blusas, não curti o gesto. Nada. Mas quiçá a senhora estivesse no meio do trânsito, quiçá o bebé não a tivesse deixado dormir, quiçá esteja a atravessar um luto difícil. Bom, uma infinidade de coisas. Ah, e eu que tenho tido umas noites terríveis, cheia de dores e dormências nos braços e nos ombros, tanto que faço uma rodilha com o lençol de baixo, tantas são as voltas que dou, na ânsia de descansar o corpo e a cabeça. Dei mais uma volta por ali assim, não na cama, agora já estou na loja de roupinhas novamente, uma vez que tinha visto tantas coisas giras... Levei para o provador, por sinal amigo das gentes anafadas, que aquilo ali tira uns três mil gramas ao aspeto, ah, tão bom, e pus-me às voltas, agora no provador, para fazer dançar a blusa verde-bandeira que fazia assim como que uma capa por sobre o dorso. Ficava-me bem, mas não a trouxe comigo, deixei-a pendurada pela tira estreitinha que une o decote atrás. Quer isto dizer que o decote atrás é tão profundo que para a blusa não escorregar pelos ombros houve necessidade de lhe pregar uma tirinha, assim faz efeito e faz também feitio. Pois então estava eu a dizer: deixei a blusa pendurada pela tirinha, já não me esmerei tanto ao ponto de não querer dar trabalho a quem tem por trabalho arrumar roupinhas e assim dar-me ao trabalho de pendurar roupinhas nos cabides de onde as havia retirado (faltam aqui vírgulas, oh céus, faltam aqui vírgulas). O mais que fiz, ainda, foi correr a cortina do provador, depois de sair, gesto que como se sabe é dispensável e até tolo, mas é que se eu tenho ido ter com a senhora para a pôr a trabalhar ela ainda me ia aos cornos e eu ando a dormir tão mal...
Sem comentários:
Enviar um comentário