Quando andei de roda da despensa, a pô-la bonita e assim, como se fosse preciso embelezar um buraco, mas pronto, pus as massas, os açúcares e os arrozes em frascos não muito bonitos, mas montes de funcionais, por conta de as tampas serem herméticas e terem uma gota mesmo fixe para se puxar, bem como para se atar uma fitinha de cetim colorida onde poderia prender uma etiqueta com o nome do conteúdo. Foi o que fiz, toda eu muito contente com a minha vidinha e a minha ideia montes de criativa. Entretanto percebi que a ideia foi inglória e o trabalho perecia por ser duma inutilidade estupidificante, uma vez que os frascos, sendo transparentes, dispensavam o nome escrito numa etiqueta toda catita, presa a uma fita vistosa. Ademais, os açúcares e as massas eram facilmente identificáveis, bastava olhar, ah isto é açúcar moreno, ah isto é massas a fazer de lírios, ah isto é açúcar de confeiteiro, ah isto é cuscus... Oh.
Mas. Tal. Coisa. Não. Sucedia. Com. Os. Arrozes.
Para identificá-los era preciso, antes de tudo, ter uma luz mais intensa na despensa, mas nem só isso, teria, e tenho, de olhar longamente os grãos, e às vezes acontece que o refogado já está no ponto, portanto há pressa, portanto tenho de me despachar, portanto posso enganar-me no grão de arroz, o que não mataria ninguém, ok, vá, mas é que não quero e blás. Então deixei três fitas atando três etiquetas que designam três tipos de arroz e tudo isto me dá um certo descanso. Os arrozes são, como já se pode ver na linda imagem que alinda o blogue, de três tipos.
Ah! Sério?! Nunca ninguém suporia que as etiquetas e as fitas sendo três, os arrozes seriam também três! Mas que conclusão incrível! Sou uma pessoa espetacular, mesmomesmomemso espectacular.
Bom.
Um dia desses aí, há seguramente meses e meses, descobri que tenho na despensa o ábêcê dos arrozes, porquanto uso o agulha, o basmati e o carolino – ábêcê, percebem. Claro que sim, por isso continuo.
O agulha é o arroz desde sempre, o agulha é o arroz que a minha mãe usa, portanto o agulha é aquele arroz com que cresci, ao qual me habituei, e que considero deveras capaz de terminar num arroz soltinho depois de cozido, que acompanha maravilhosamente qualquer coisa, o arroz que se aguenta bem com temperos de toda a classe.
O basmati, quem me falou dele foi a Célia, enquanto me fazia a manicura, dizendo que é um arroz fininho e muito aromático, um pouquinho mais caro, tudo bem, mas valia a pena. Fui atrás da conversa, marimbei para o dinheiro, também não era nada que não se lhe pudesse chegar, e descobri um sabor único e fantástico. É o arroz do caril por excelência, mas vai muito bem a acompanhar feijão, e este é somente um exemplo. Há quem alegue que o basmati, não sendo arroz de ensopar, não se dá com a feijoada. Pois eu cá não acho, ora essa, e o molho do caril, como é? Ná.
O carolino é o arroz do meu arroz-doce. É um arroz que se empapa pra caraças, larga muito amido com a cozedura, daí ser o ideal para dar aquela cremosidade tão própria do arroz-doce. Não uso o arroz carolino em mais confeção nenhuma, se bem que saiba que é também ótimo na preparação de pratos em que se queiram o arroz malandrinho, assim para o mole, empapado e caldoso.
Às vezes compro o risotto. Às vezes. Vou estragar o abecedário... Não vou nada, ora essa. O risotto é assim mais ou menos bom. Pronto, eu gostar, gosto, mas faz-me um bocadinho de impressão o al dente que aquilo traz consigo, de agarrados que os grãos ficam aos dentes, e a expressão dos italianos vem daí, julgo eu, e é um arroz que para se preparar tem uns trâmites demorados e nem sempre há tempo. Mas é efetivamente um arroz que às vezes mora lá em casa, na minha despensa, só por dizer que não tem frasco à disposição, tampouco fitinha ou etiqueta. E não estraguei o abecedário, pois não. Não.
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