quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Diário das expressões

Lisboa, 14 de novembro de 2019
Lugar escondido, que dizer, ora pois. Basicamente, o lugar escondido era o lugar onde eu ia, no tempo do velho estaminé, buscar a mercadoria para repor nas prateleiras. Para a maioria das pessoas que na altura faziam parte da minha vida, era simplesmente 'o armazém'.
Lisboa, 19 de novembro de 2019
Por conta dessas funções eu viajava até ao armazém uma ou duas vezes em cada dia e aproveitava para fotografar, gravar, escrever, estar e ser. Mas tudo escondida. Pois. Não, não há uma maneira bonita de explicar isto.
Lisboa, 20 de novembro de 2019
Escondia-me lá durante cinco ou dez minutos. Quinze. Não sei. Era uma maneira de fugir à insustentabilidade de permanecer no velho estaminé com o propósito normal, o qual, na verdade, nunca encontrei, por mais anos que se passassem.
Loures, 21 de novembro de 2019
Há dois dias (acima), referi que não há uma maneira bonita de apresentar esta questão, hoje digo que há, mas que não a tenho, e não vou estender mais este assunto, houve um dia aí em que me estreei num lbogue... ai perdão, blogue colectivo precisamente com este assunto (aqui). Nesse dia consegui ser fofinha a descrever o que para mim significa o lugar escondido, portanto cinjo-me ao já criado, afinal são verdades que fui eu que escrevi e tudo.

… «O velho estaminé é um estaminé que já não há, mas como há outro, diferencio-os assim. Repor artigos nas prateleiras fazia parte das minhas funções e eu viajava até ao lugar escondido uma vez ou duas em cada dia. O nome 'lugar escondido' apareceu porque eu me escondia lá, de quando em quando. Sim, bem sei, é um nome original que se farta, é por não sê-lo que se trona rápido de explicar. Para lá chegar descia uma escadaria escura e íngreme que desembocava num pátio, e era aí que residia o encanto maior, pelo desafogo, pela claridade, pelos vasos com plantas, pelas gastas portas das arrecadações, por ser um lugar vazio, por dali avistar toda uma série de vidas pelas traseiras das casas, pelo cheiro da roupa acabada de estender, pela passarada, pela nespereira, pela videira que foi o senhor Manel que plantou e cuidou até morrer. Enfim, coisas, muitas coisas. Um dia chegou até mim o digital e eu toca de clicar sem fim, descobrindo depois que cada foto era mais gira e fixe que a anterior e afora, e o lugar escondido sempre a colaborar comigo da melhor maneira, não cessando nunca! o meu encanto.»


Este post é continuação daqui.

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