Conversei com o Kit:
- Não me apetece nada fazer isto, Kit.
E com a Kat:
- Ó Kat, não me apetece nada fazer isto.
O Kit ficou à espera da minha carícia, que é um dos modos como fala comigo, consente-me por ali, tem a minha presença como estupidamente inquestionável, e a Kat continuou a fitar-me desde o seu poiso predilecto - o cimo do armário da cozinha – que é um dos modos como fala comigo, consentindo-me também, mas questionavelmente, que quem manda ali é ela, e eu ó: manda aí Kat, o pedaço é teu, de visita não passarei. Quem dera a mim o poderio que estes bichos-gato têm, contêm e mantêm - podem não fazer, simplesmente.
A senhora aprovisiona tantos produtos de limpeza que posso, inclusive, usufruir de uma escolha múltipla no que toca a limpa-móveis. Portanto: se da última vez usei o 'ambar e aragan', posso agora escolher por entre o mero 'classic' ou o bem vindo 'frescor de primavera' ou o por ora desconhecido 'ambar e organ'.
Entretanto, os bichos-gato aconselharam-me (vocalmente, que eu bem os ouvi) em uníssono:
- Gina, vai beber um copo de água, que isso passa-te.
Anuí. Dirigi-me ao armário e pude escolher por entre um copo com desenhos de morangos ou de limões, que escorrem copo abaixo, tanto num fruto como no outro. E já sei que 'escorrer abaixo' é redundância mas, e, deixo ficar, gosto delas, acho que é porque sou grafómana. São bonitos, os copos, e normalmente escolho o que estiver mais ao pé da mão, fugindo assim do medo de tomar partidos. Mas desta vez não obtive essa benesse porque ambos estavam à mesma distância do bordo da prateleira, então decidi-me pelo copo que tem os morangos desenhados a escorrer, sendo o critério de escolha o fruto que mais aprecio. Sim, é que eu gosto muito de limões, mas gosto muito mais de morangos.
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