terça-feira, 21 de janeiro de 2020

De quando eu lia livros

Quando abri pela primeira vez o livro 'Mrs. Dalloway' de Virgínia Woolf estava na Livraria Lello, no Porto. Havia um marcador do próprio livro nas páginas 88/89, logicamente o livro abriu aí. O que li transpus imediatamente para a minha personalidade e para as minhas vivências.
Não, não é presunção achar-me parecida com descrições, ou com um pequeno excerto, de uma obra literária de tão grande porte como esta, é reconhecer-me. Apenas e só isso.
«E é claro que gozava imensamente da vida. Fazia parte da sua natureza desfrutar das coisas (embora só Deus soubesse que ela tinha as suas reservas; Peter muitas vezes sentia que, após todos aqueles anos, apenas conseguia traçar de Clarissa um pequeno esboço). Em todo o caso, não existia qualquer amargura nela, nenhum daquele sentido de virtude moral que é tão repulsivo nas boas mulheres. Ela gostava de praticamente tudo. Se se passeasse com ela pelo Hyde Park entusiasmava-se com um canteiro de túlipas, mais à frente com uma criança num carrinho, depois com um pequeno drama absurdo que criava, no momento, por impulso. (…)
Possuía um sentido de humor verdadeiramente refinado, mas precisava de pessoas, sempre pessoas, para o incentivarem.»
|10 novembro 2011|

Não ostento orgulhosamente o livro que ando a ler perante a outra gente. A outra gente que fala e ri. Pouco lhes importa o que ando a ler, muitos olham mas ninguém me vê com os outros sentidos. Tapo-o porque não quero danificá-lo e não por sentir embaraço acerca do meu gosto literário. Ademais ao momento leio uma obra considerada um dos melhores romances do século XX, (…) não há que ter qualquer sombra de pudor. E estou a gostar do livro. É estranho, complicado, possui um entrosamento difícil (ou não muito fácil) de entender, mas eu gosto daquele emaranhado de pensamentos. Gosto das personagens, dos lugares, das cenas, do drama crescente em cada parágrafo.
«Foi horrível, exclamou ele, horrível, horrível!
Apesar disso, o sol estava quente. Apesar disso, uma pessoa acaba por ultrapassar as coisas. Apesar disso, a vida tem uma maneira só sua de adicionar uma dia a outro dia.
In ‘Mrs. Dalloway’, Viginia Woolf»
|23 novembro 2011|

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