terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Relatos que do chão vêm

Encontrei-me com um pano enrolado como um canudo. Pareceu-me rasgado, sem remate, como se de aproveitamento de pijama velho se tratasse e nada mais houvesse a fazer-lhe do que remetê-lo para pano de limpeza. Mas em canudo ficou bonito.

Encontrei-me com um clipe esventrado. Não, aberto. Aberto, vá. Parece um coração, pois parece. Eu dou-lhes essa forma, quando já não gosto deles, por estarem enferrujados ou coisa assim. Dou-lhes este tratamento: abro-os e deito-os fora. Ou seja: primeiro estrago e depois digo adeus. E isto a um clipe que parece um coração.

Encontrei-me com um cotonete com suas extremidades – o algodão – desfiadas. Terá sido usado e daí o aspecto? Terá sido atirado e à conta de ventos e de chuvas é que vem daí o aspecto?

Encontrei-me com um pedaço de mola da roupa, comummente composta por plástico e metal. Quantos e quantos rebolões sofreu aquela mola para se lhe ter partido as pontas... Não é? Vai andando, vai andando e parte-se. Claro que a mola de metal dá resistência ao plástico, dá como que um abraço, vá, mas as pontas vão enfraquecendo, partem-se e a mola vai ficando pequena e, portanto, imprestável – quem consegue abrir uma mola sem pontas...?

Encontrei-me com um tubo sem rolhinha e com bico. Portanto corta-se, não se desenrosca.

Sem comentários:

Enviar um comentário