sábado, 4 de setembro de 2021

Jamais

Embora tivesse cruzado caminhos religiosos em tempos remotos, jamais me considerei religiosa, julgo que por me ser difícil colaborar ou fazer parte seja lá do que for. A somar: com o passar dos anos surgiu todo um rol de dúvidas e um dia desliguei-me por completo desse mundo. Porém, actualmente, não é que descreia na existência de Deus, mas... Hum, e se, afinal, pá, existe...? Percebo que estou no lugar mais confortável, seguro e cobarde que há: tanto se me dá que exista, como não, vou andando com a minha vidinha repleta de coisas comuns, igual a toda a gente, sem certezas, sobretudo sem querer tê-las, o que também contém uma boa dose de preguiça, que eu bem sei que sim. Melhor me é atentar no que vejo e sinto, porque isso, mesmo que inventado, (e quantas vezes o é...) a mim pertence, fui eu que fiz, vi, notei - eu - e daí nasce uma verdade que ninguém - senão eu - pode destronar. Deleito-me com o cheiro do ar, o brilho do prédio amarelo, o que acontece às plantas. Isto são tudo verdades e nestes exemplos há uma espiritualidade que me preenche, nunca fui tão permeável nem disponível como agora, e isto nada tem de oposto à religião. Ser religiosa é isso: permeabilidade e disponibilidade. Bom, é consabido que este tema é inexplicável, o principal registo que queria fazer é que nunca fui tão espiritual como agora e queria que se percebesse que essa espiritualidade efeito-causa não passa pela religião.

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