Este blogue tem quatro anos. Sim, gosto muito de escrever. Sim, sou mesmo grafómana. Há para aí meia dúzia de anos que conheço a palavra e o conceito. A descoberta é do tempo em que lia livros e descobri-a num dos de Italo Calvino, Se Numa Noite de Inverno um Viajante:
«Estás a ler ou a fantasiar? As confabulações de um grafómano exercem assim tantas sugestões sobre ti?»
Quando quero dizer coisas acerca do que representa para mim ter um blogue, mas não posso contar com a espontaneidade, como é o caso de agora - quero escrever porque o blogue faz anos e não porque simplesmente se me chegou um assunto qualquer - lembro-me sempre de coisas assim:
Eh pá, não sei como é que alguém arranja paciência para ler este blogue!
Mas a sério que lêem?!
E tudo…? Hum.
Pá, é que me espanta deveras que alguém aguente ler. Mais: ler tantas coisas que me acontecem, ou penso, ou sei, ou faço, ou sou. É que eu não penso em vocês. Acho que, pensando, não publicaria tantos posts num só dia. É, não é? Estou a pensar bem, não estou? Era uma coisita aqui e outra dali a dois dias, pois era? Mas obrigada por lerem. Mudando a agulha: já tive outros blogues, sou blogger desde 2006, portanto pode ver-se que quatro anos é, afinal, poucochinho. Os outros blogues estão escondidos porque na altura fui levada pelo desejo de não querer que os lessem. Puramente isso. É uma questão passada e confesso que ultimamente tenho sentido uma certa vontade de os pôr a arejar mas não é, ainda, a suficiente. Deixo agora uns quantos excertos que fui buscar a esses antigos blogues, os quais me retratam enquanto pessoa que escreve num blogue acerca de si.
Às vezes escrever não é nada bom:
Sinto que me estou a afastar da vida, o imaginário é tão mais apelativo – ou tem-no sido -, desconstruo o mundo e reconstruo-o como me aprouver ao momento. Entretanto dou comigo a sentir que durante esse processo cíclico e doentio a vida não me apraz tanto quanto devia, dou-me ao imaginário, à criação, e escrevo ininterruptamente, ou desconstruo e reconstruo as minhas observâncias, o que me cansa, oprime e martiriza. Na verdade eu não tenho uma cabeça pensante, eu tenho uma cabeça escrevedora, penso, escrevo e escrevo e escrevo e escrevo, eles e elas vão embora porque eu preciso estar sozinha para escrever, ou então não me dão atenção, claro que não, digo patacoadas improváveis – não sei conversar - ou sou muito ansiosa ou muito séria ou muito autocrítica e amedronto as pessoas.
|2 novembro 2012|
Às vezes escrever é só escrever e acabou a conversa:
Sei porque escrevo
mas não sei para que escrevo.
O motivo pode ser o mesmo
mas não é,
porque eu escrevo por necessidade
e escrevo sem utilidade.>
|6 outubro 2012|
Às vezes escrever é muito muito muito bom:
Escrever é gratificante. Escreve! Escrever ajuda-te a conheceres melhor as tuas (in)capacidades. As dos outros também. Quando escreves passas a saber lidar com as pessoas. Vês pontinhos bons em pessoas de quem não gostas. O mundo brilha, é puro. Muda porque é esse o teu desejo, inventa-lo como queres que seja e tu quere-lo bom. Os momentos enquanto escrevente são do melhor que há para o espírito. Tu és uma pessoa maravilhosa quando escreves.
Escrever é rejuvenescedor. Escreve! Desabafas ao escrever. Escreves o que não és capaz de dizer. Extravasas. É alivioso, atenua as dores, desvia-te do sofrimento atroz, atentas no todo que é o mundo. Rejuvenesces pelo desanuviar de mente. Esquadrinhas, dissecas a vida, vais-lhe tirando pedaços ruins até a sentires boa e bem.
Escrever é agradável. Escreve! Importas-te, interessas-te, rebuscas pequeninas coisas em tudo e fá-las engrandecer até se tornarem indispensáveis. Observas a espuma das ondas e os sinos da igreja demoradamente porque queres escrever. Os cimos dos montes transformam-se em textos na tua cabeça, o horizonte de uma longa estrada, idem. Partilhas acontecimentos e contagias outros com o teu olhar polido e perscrutador.
Gostas de escrever, em suma. Força nisso. Escreve!
|7 dezembro 2010|
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