domingo, 5 de janeiro de 2020

Gina, em antigas relações com o supermercado.

Fui até ao supermercado em fila. Sim, era sábado, só que não era um sábado qualquer. Não. Era o! sábado antes do Natal. Pois. Tanto que o caminho me demorou canção e meia - e não uma só canção (e tenho a ideia de ter exposto esta questão no lbogue… ai perdão, no blogue… vou pesquisar… já fui - pus, sim senhoras e senhores, está aqui) e tive que optar por um lugar diferente do tão habitual, mas tão habitual, que quase é cativo.

Cruzei-me com um apressado cavalheiro. Isto assim a contrariar-se é propositado, bem sei que um cavalheiro jamais tem pressa, ora essa. Ele ia naquela consumição por conta do bacalhau. Da bicha do bacalhau. Da bicha para o bacalhau. Do bacalhau. Do bacalhau para o Natal.

Comprei uma pasta de dentes. Já fica. Passei no corredor e vá disto q' amanhã, quiçá, não haja.

Comprei vinhos sob aqueles meus critérios do costume:
que estejam em promoção; que não custem mais do que cinco euros; que a descrição no rótulo me agrade
gosto que os rótulos se distanciem em experiências, sejam como que opostos,
se um diz ser encorpado e persistente, o outro que seja subtil, delével,
se um diz ser frutado, o outro que lembre madeiras

Comprei mais uma almofada. Desta vez optei por uma um pouco mais alta, mais cara mas pronto, gosto de almofadas com altura. Esta tem até um rebordo bonito.
No entre destes tantos já uso a dita almofada. Não é o amor da minha vida mas é um amor. É um amor fofo, que afofa.
Não.
Não afofa nada.
O que faz é, por ser fofa, transmitir essa sensação e parecer que a cabeça fica fofa, mas não, a cabeça repousa numa fofura.
Assim é que é.

Queria - notem bem: queria - comprar guardanapos festivos. Podiam ter azevinho ou pais natais ou bolas ou laços. Mas é demasiado alto, o preço. Não perdoa o bem que fica pelo que tanto que custa. Depois percebi que nem os havia, se de acordo com o meu gosto e querer. Uns lembravam o Verão porque tinham um par de chinelos de enfiar os dedos, outros tinham ovinhos de Páscoa e uns outros tinham um gato e eu não tenho gatos… Não comprei.

Na fila para pagar avistei um saco que dizia 'transforma este presente numa história sem fim' e, por baixo da frase, aquele símbolo de quando a gente clica em algo, se nas netes estamos, e que manda dizer-nos 'espera aí, estou à procura'. Lembrei-me que ilustra a ideia dos presentes que passam de mão em mão. Pá, apoiei-me na 'história sem fim', pronto.

Quando a caminho do parque de estacionamento (a descoberto, claro, desde quando é que uma fóbica se mete a coberto de um parque de estacionamento? nunca!) o meu desejo era que o aspecto das pessoas que vinham da rua pressagiasse a ausência de chuva. E pressagiaram, não chovia.

Esta ida ao supermercado, pela afluência de gente e de trânsito, foi coisa para durar mais meia hora do que o costume.

☆☆☆☆☆☆☆

Era véspera de Natal e avistei novamente as fileiras de luzinhas nas escadas rolantes. Quis também agarrar em muitas coisas em simultâneo. Demasiadas coisas. Moedinha de plástico segura, empunhar telefone, sacalhões escorregadios. Naquele momento foram demasiadas coisas - caíram os sacalhões. É certo que sou uma mulher cheia de sorte, podia ter caído, precisamente, o telefone. Mas não.

Geralmente safo-me de idas ao supermercado neste dia mas desta vez não deu. Concluo que, por o Natal ficar no meio da semana, não dirigi as faltas e as presenças na minha despensa e frigorífico em maneiras de me safar. Paciência.

Escolhi um carrinho que se revelou uma má escolha. Escolhi-o para poupar tempo, era um que já ali andava com a moeda. Mas por que é que esse, precisamente esse, carrinho ali andava já com a moeda? Porque era um daqueles desalinhados! Claro! Era lá agora uma ocasião do caraças? Não!

O corredor das bolachas estava vazio. Mas as pessoas não querem bolachas na mesa? Ai não?!

Em toda esta demanda só vi uma pessoa calma e segura caminhando pelos corredores. Uma.

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