terça-feira, 21 de abril de 2020

Baú, 11 de agosto de 2016

Não há medo de ser repetitiva, não no blogue. Sim, li.
Li.
Interrompi a leitura para apontar isto d' agora.
Li.
Interrompi para apontar num papelinho que no veio central das páginas 280/281, onde parara a última vez que me pusera a ler o livro do momento (Estranha Ternura, Miriam Toews), no meio das duas, na junção, havia impurezas que mais pareciam fiapos de borracha de apagar lápis. Pensei um bocado mais, e melhor, e concluí que eram migalhas e partículas doutras espécies que andarão aos rebolões por ali assim dentro da mala, se ademais nos últimos dias o livro viajou, ingloriamente, uma vez que não cheguei a lê-lo, com uma factura áquatro dobrada em três pelo lado mais comprido, quer isto dizer que havia mais espaço para entrarem impurezas sejam lá que espécie forem.
Li.
Interrompi para apontar num papelinho que já conseguira ler três páginas, que vitória era.
Li.
Interrompi para anotar num papelinho a ideia de pôr asteriscos exactamente em que parte da leitura ou do texto foram entrando pessoas. Tarefa que no momento posterior, que é este, se revela impossível de realizar pela inexactidão de factos com as horas de toda a gente, as minhas letras e as páginas do livro. Contudo, apontei o homem do gelado de copinho, que todos os dias lá vai, um dia fixo se o sabor muda ou então não; apontei muitas senhoras sexagenárias a pedirem café; apontei que o homem do canto, muito velho, se levantou, deixando de fazer número; e agora estou a lembrar-me do homem que lia o jornal com afinco dum tamanhão tal que não lhe cheguei a ver os olhos pousados noutro lugar que não no jornal.
Li.
Interrompi para apontar num papelinho que comecei a sentir-me demasiado inquieta, sou realmente incapaz de permanecer, seja lá onde for, mais do que uns quinze a vinte minutos.
Li.
Interrompi para apontar num papelinho que isso do póstumo, ah, isso do póstumo... Daqui a vinte... sei lá, cinquenta anos será que o meu blogue ainda se deixa ler na Internet?
Li.
Parei de ler. Cinco páginas. Mui grande vitória, óié. Fixei o olhar na capa protectora do telemóvel, nos mochos que lá moram: um azul, um rosa, um mocho, uma mocha, a mocha tem até pestanas e, contrariamente ao mocho, tem os olhos fechados, numa atitude vaidosa, senhoril. Mulheres, pá! Pus-me a brincar com a badana de abrir e fechar a capa até me fartar, o que não levou tempo nenhum. Que desassossego. Senti-me da maneira que me sinto inúmeras vezes, específica e habitual, a maneira. Tenho de observar para me distrair. Tenho de escrever para me distrair. Não é loucura, isso de escrever para me conhecer, para aprender, para compreender. Mas sendo para me distrair... É que não me aguento, percebem. Claro que sim, mas a prosa acaba aqui.

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