sexta-feira, 20 de março de 2020

Gina, numa relação com o supermercado.

Abalei de casa à hora do costume, na disposição de ir às compras ao supermercado, só por dizer que hoje é sexta-feira, sendo o meu costume aviar-me aos sábados. Isto é coisa acontecida por conta do vírus do momento, pois que, à conta dessa porra, tenho a minha vidinha laboral um tanto ou quanto alterada. Bom, adiante, que para trás não vai dar. Encarei a demanda e 'bora lá, ó Gina. Um dos parques de estacionamento estava barrado mas não o do meu costume e, esse, atravessei-o malucamente porque gosto de pisar riscos no chão, principalmente quando, e se, não fui que eu os fiz. Uma das entradas estava barrada e na outra estava um segurança posicionado diferentemente, não lá dentro, de lado, mas cá fora e de costas para o corredor do espaço comercial. Ofereci-lhe um 'bom-dia' vocal e acrescentei a pergunta: 'posso entrar?' e ele, sem ressalvas ou avisos, disse que 'sim'. Ora pois, adentrei e percorri. Encontrei o silêncio. As pessoas circulavam caladas e sem pressa, como que à cautela. E de máscara, algumas. Numas notava-se-lhes mesmo o quererem largueza. Enfim, por mim tudo bem, eu até, pronto, tudo bem, mesmo, quero lá saber se não me querem por perto, oh.

Comprei coisinhas, claro.
Se precisava mesmo mesmo mesmo de ir hoje às compras?
Eh pá, não. Dava para adiar mas adiantei-me porque me dá jeito e dar-me jeito tem sempre a ver com umbiguismo.
Se eu, sempre tão sorrateira e desacompanhada, sinto isso do umbiguismo?
Claro! Tenho um lbogue… ai perdão, blogue!
Se açambarquei? Se me pus à frente?
Não e não.
Se marimbei para a cortesia que me caracteriza?
Não, precisamente porque me caracteriza.

Na fila para pagar tentei manter a distância recomendada e folguei, assim sempre podia falar mais à vontade com o meu telefone. Sim, nessas alturas, as de gravação, costumo estar sobretudo a falar com o telefone, não é com ninguém. Entretanto, durante a circulação pelo supermercado, percebera que as pessoas podiam, sim, entrar aos pares.

Há papel higiénico mas não há fermento de padeiro. Trouxe um maço de lenços de assoar, uma nova coleção, são seis, mas isso já é o costumeiro número de pacotes em cada maço.
Dois têm um parzinho debaixo de um chapéu-de-chuva. Vêem-se da cintura para baixo porque o chapéu lhes corta o resto. Ah, estão de costas. O chapéu é azul, as roupas deles são: ela, calças azuis e camisola cor-de-laranja; ele, calças pretas e camisola vermelha. Compondo o cenário, e a fazer de pingos de chuva, estão corações em vermelho e azul.
Dois são com casinhas fofas e, de tão fofas, parecem de brincar. As formas são variadas, há inclusive torres. São todas diferentes, nenhuma casinha ou torre é igual a outra, há janelas com cortinas e até os telhados são diferentes uns dos outros, e há um que têm neve a escorrer e outro no bico do telhado.
Um tem um chapéu-de-chuva vermelho e amarelo em gomos alternados e um par de botas de borracha nas mesma cores, cuja sola é preta e tem um desenho no cano também em preto. Aqui a chuva parece-se com pingos, grosso que eu sei lá, não só nas cores do chapéu e das botas como em azul e preto.
Um tem chávenas e canecas. Dois parzinhos de chávenas, comparando o tamanho das demais presumo que sejam de café, há também uma dessas mas solitária - perfazendo assim três - uma caneca altíssima, duas com pé e chantili no topo - portanto é cappuccino - uma chávena almoçadeira, uma de chá - esta tem até a etiqueta pendurada do bordo, o que indica o repouso da saqueta - uma chávena para meia de leite e , finalmente!, uma caneca normalíssima, banalíssima, digo eu daquelas para beber leite simples ou um belo café com leite. O cenário deste pacote são meros cristais de gelo, em branco.
De resto, todas as cores são fortes. Todas. Até o branco. Sei lá, visto daqui parece um branco cheio de força e querer saber.

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