quinta-feira, 19 de março de 2020

Lisboa, 19 de março de 2020

Tudo indica que estou a viver o último dia de soltura, não tarda mandam fechar-me em casa por conta do vírus do momento, não sem antes fechar o estaminé. O meu estaminé fechado, oh.
Bom.
Então.
Fui ver (e despedir-me d) a árvore amarela. Ia esperançada de lhe ver as folhinhas muito verdinhas, só que não, afinal não se alterou nada desde a última vez, o que até lamento, uma vez que o mais certo é revê-la somente daqui por umas semanas.
Lisboa está ainda! mais deserta. É indescritível o silêncio que lhe ouço. Não, não sei descrever, mas talvez seja uma solidão falante, algo assim, o que ouço vir desse silêncio.
Tirei fotos à rua mais bonita de Lisboa. Está toda muito verdinha. Cumprimentei as meninas-estátua. Sentei-me no banco hater e tirei-lhe fotos. Tem em si sulcos que, eu querendo, vejo como crateras. Tirei fotos ao poeta, por ora não muito tapado pela folhagem recém-chegada.
O meu colega contou-me que o Ângelo lhe disse que o ar está mais limpo, costuma reparar nisso em agosto mas agora nota mais ainda. Agosto é quando também meio país pára, ah pois, mas nunca notei essa limpeza de ar, pensei eu.
Uma vantagem das filas que se vêem às portas dos supermercados, notei hoje, é parecerem maiores do que na realidade são, afinal as pessoas distanciam-se cerca de um metro para cumprir as regras que visam diminuir o risco de contágio. Comparei a fila a um elástico humano ou coisa assim e achei piada à ideia. Quem sabe estas coisas contribuam para que no futuro já não tenhamos que estar em filas com o 'elástico' todo por esticar. É que há por aí umas pessoas, oh porra, cheguem-se para o lá, não para o cá, tá?
Fui ver a estátua que (me) sorri mas que não (me) sorriu. Dantes, ali, cheirava a comboios, mas hoje não. Às tantas o Ângelo tem razão naquela ideia que deu, a do ar limpo. E olhem que vi vir de lá um, veloz, e o cheiro não me chegou, nem por indução da minha mente.
Junto ao lugar (que também pode ser) da musa - um deles, afinal são vários, mas este em particular é aquele que tem um trio de bancos de rua junto a si – ouvi alguém a tocar piano e lembrei-me de uma coisinhazinha ocorrida na última vez que dei entrada na casa dos que estão ao rés da idade adulta e que ainda não registei no blogue. Para começar, o 'petiz', o do cumprimento habitual, fê-lo da mesmíssima maneira, mas sorriu. Sério. Sorriu. Retribui, claro. Depois ouvi-o tocar viola, lá do quarto, o que valeu de muito. Mas é que mesmo mesmo mesmo. 
Passei de novo junto da árvore amarela. Tudo bem e tal, mas notei umas folhinhas despontando. Jamais saberei se lá estariam da vez primeira e eu é que nem reparei, ou se despontaram depois do calor da tarde. Tirei fotos mas não me satisfazem.
Sentei-me no banco hater. Outra vez, pois foi. Agora circulava mais gente, ainda assim menos do que em qualquer uma das quintas-feiras que já passaram. Tirei-me uma foto mas não me apetece publicá-la. Aliás: não me apetece publicar nenhuma das fotos que menciono neste post que tirei. Claro que este meu modo pode ir-se embora. Vamos todos ficar na dúvida, tá?
Fiz, presumo, as últimas compras no nepalês da frutaria, isto antes de a vida se me normalizar:
seiscentos e cinco gramas de couve-coração
seiscentos e quarenta gramas de curgetes
quinhentos e cinco gramas de cebolas novas
novecentos e noventa gramas de bananas
trezentos e vinte gramas de cogumelos

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