domingo, 31 de janeiro de 2021

Finalzinho

No fim do jantar comi uma laranja, que me soube bem. Bem, mas bem. Diz que a laranja à noite mata, de maneiras que amanhã não actualizarei o blogue. Ou então, esperem lá, pode ser que este saber-bem se ponha a fazer de salvador e.

Finalzinho

De igual a todos os anos, de falado no blogue todíssimos os anos:
o Janeiro está no fim e tem mais uma hora de luz;
a árvore amarela está nua, escura e mirrada;
o poeta está no pedestal há tantos anos como os que farei daqui por seis meses;
a penugem das árvores da avenida adensou;
não me ralava nada que os dias de Verão tivessem o mesmo tempo de luz que têm estes de Inverno

Sim. Sim, a tudo sim.

E sim, as árvores do jardim já contêm florzinhas brancas com laivos avermelhados. E sim, é Janeiro ainda. E sim, foi esperar demasiado que a foto deixasse ver a maior de todas. Eu tirar uma foto, tirei, mas quais florzinhas tal e tal, qual quê. Não muitas, pelo menos. Quem sabe hoje, uma vez que a foto tem três dias, já se vejam por lá mais umas quantas. O que tenho a fazer é, portanto, ir lá certificar-me logo que puder. Coloquei rodelas para realçar as florzinhas. Contei quatro. Contei quatro, mas aqui, no conforto da imagem aumentada, lá nem me lembrei de contá-las.

Dia de (disseram na Radio)

Era dia de telefonar a alguém a quem não se telefone há muito tempo. Lembrei-me da minha ti Bia. Não há quem tenha ascendência aos Sules deste país e não tenha pelo menos uma ti Bia. Digo pelo menos uma porque quando era criança até tinha duas, o diferencial era a ti Bia do forno. Delas, uma era tia da outra. Ou seja: do mesmo modo que a minha ti Bia era minha tia, assim tinha uma tia que era a sua ti Bia. Já sei, está confuso. Ou seja: a minha ti Bia é irmã da minha mãe, a ti Bia do forno era irmã da minha avó materna. De maneiras que pronto, a minha ti Bia do forno era minha tia, mas em segundo grau. Já se percebeu, tenho essa esperança.
A minha ti Bia é a! ti Bia. Era quem nos dava guarida aquando das visitas ao Sul. Uma vez comentei que na sua casa não se podia comer mais nada senão cozido de grão ou sopas de tomate. Vai daí, na refeição seguinte, apresentou-me batatas fritas com ovo estrelado, isto porque antes eu lhe havia dito que nunca tinha comido disso lá. Soube-me bem e aprendi a lição. Gostava particularmente de a ver costurar. Uma vez, já jovenzinha, observei-a a costurar, cortando o tecido que apoiava nos joelhos. Contei-lhe aquela piada de 'fazer as coisas em cima dos joelhos'. Riu-se e anuiu. Achava o máximo que conseguisse saber onde cortar o tecido, principalmente porque nessa altura eu já andava na costura e portanto já tinha umas luzes acerca do assunto.
A ti Bia do forno tinha uma mercearia e dedicava-se também ao comércio de pão. Lembro que nesse forno também se fazia popias, só não lembro se outro tipo de bolos, mas lá que se faziam as popias que nunca esquecerei, faziam. Nunca mais encontrei popias de sabor igual. Às vezes há coisas que se vive na infância e parecem ter uma conotação inventiva - aquele sabor era extraordinário porque as papilas eram jovens, o tempo era outro, o lugar idem. Quiçá seja antes isso. Por falar em infância, eu adorava brincar com a enormíssima taça de bater a massa. Tinha uma pá gigantesca e a minha brincadeira era girar a taça. Ouvia logo o ralhete da minha mãe, claro, mas era irresistível girá-la e até apoiar-me naquilo para inventar um carrossel. Acho que, ainda hoje, pudesse eu rever a taça e. Sim, sim. E não, ainda não liguei à minha ti Bia.

este post já vem daqui

vermelhos, verde e demais coisinhazinhas


 


Olá, bem vindos aqui. A primeira foto deste post é uma papoila que encontrei ontem no caminho. Está o vermelho da papoila em cima do vermelho da caixa dos óculos porque entretanto não encontrei melhor poiso, quiçá por já ser noite. Mas achei bem na mesma, digo eu que o vermelho esteja por cima do vermelho. A segunda foto é uma selfie que tirei para me certificar até onde me chegava o pescoço. É que tinha ido cortar o cabelo e instruí a cabeleireira que não o fizesse em poucochinho. E ela cumpriu. Isto já ocorreu há uns dez dias, ou coisa assim, não estávamos ainda com o confinamento implementado, tanto que me joguei logo a marcar o corte, que já andava bem precisada disso, não fosse acontecer como do primeiro confinamento, que ninguém esperava aquilo e eu, oh pobre de mim, opróbrio até (que querem, fez-me lembrar), de melenas ainda mais mal amanhadas que o costume passei eu esse tempo. Entretanto, desde o dia da foto até hoje, o cabelo já cresceu, se me vissem agora nem me iam reconhecer. Sério.

sábado, 30 de janeiro de 2021

Dia de (disseram na Radio)

Há meses que, do tempo que dedico ao blogue, não retiro uma porção para escrever acerca do 'Dia de (disseram na Radio)'. Se por isto, se por aquilo, pouco importa esclarecer, o que acontece é que é facto. Mas esta semana ouvi três 'dias de' que sinto como imperdíveis e neste post apresento um.
Era dia do vinho do Porto. Há muitos anos li um livro – 'Ervamoira', Suzanne Chantal – que conta a história de uma família cujo negócio era uma vinha e vinhos daí advindos. Apreciei tanto este livro que, em cada vez que ouço falar do vinho do Porto, não especialmente pelo lado bebível da questão, mas por um qualquer lado histórico, recordo-o sempre. Sempre. Quem me conhece do blogue (e até da vida) sabe da minha dificuldade em ler atentamente e, ou, prazerosamente. Mas olhem que não fui sempre assim, esta questão da (des)leitura apareceu-me por conta da grafomania. E agora o lado bebível da questão – sim, gosto de vinho do Porto. E também gosto muito de livros. É um universo do caraças. Todas as bibliotecas são um universo, mesmo contendo uma meia dúzia de livros. Às vezes, quando entro em casa dos clientes, miro as prateleiras, de longe ou de perto, dependendo da confiança que há. Umas contêm livros bonitos, limpos, alinhados. Esses universos estão como que por desbravar, vá, parece que ninguém mexe ali com regularidade. Outras têm tudo ao molho, pouco importa a quem ali mora se os livros estão do maior para o mais pequeno ou pelo contrário, a uns sai-lhes a lombada mais do que a outros, são umas prateleiras mexidas. Depois há os de mais ou menos, as prateleiras mostram-me que há mexedelas, há olás, há zunzuns. Há de tudo um pouco, claro, afinal o que são universos senão algo onde caiba 'de tudo um pouco', né?

Decalque

Arrependi-me de não colocar a ideia primária que me ocorreu quando vi a folha no chão (ver post anterior) e é por isso que este mesmo post existe. Decalque. A primeira palavra que me surgiu aquando do especial avistamento foi decalque, mas aboli a ideia de a juntar ao texto, pareceu-me não combinar com a visão. Isto porque eu estava a ver a prensa como vinda da folha e não é daí que ela vem, é do alcatrão. O alcatrão é que decalcou a folha. Era só inverter as forças, afinal.

Não tardará

No chão estava uma folha, enorme e castanha mas nem somente, também furada pelo relevo do alcatrão.
olha a chuva, olha o pisar
olha a chuva, olha o pisar
Incessante, e foi no que deu. Não tarda nada, nada restará.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Post com título

Se pusesse no lbogue... ai perdão, blogue todas as ideias que me abordam ia faltar-me tempo para o resto. Mas lamento que não as retenha todas.

Na dúvida, admitir a primeira hipótese que surja. Confiar no supetão é quasi sempre o melhor caminho,parece a mim.

Não
Sim
A dúvida por entre fez alguém duvidar
Nim
São
Nim, olha, tu tens graça
São, nada disso, chispa mas é daqui.

a ver se te dizem como é porque tu não sabes

dois pontos

arsenal de guerra:
cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, bofetadas
e, a destoar, o que não rima com 'adas': murros, pontapés
e, descobri entretanto, nada rima com violência

dois pontos

relacionamento:
choque, fricção

Durezas

Descreio que a curiosidade se dê apenas com esta que vos escreve, afinal o que me acontece é comummente banal, pode é acontecer eu inventar que abrilhanto as coisas que me acontecem até me parecerem coisinhazinhas. Mas vá, vou-me ao que me trouxe. Ultimamente tudo o que é cosmético está em duras consistências, ele é champô, ele é gel de banho, ele é creme de mãos, ele é, até, pasta de dentes. É aqui que mora a novidade na minha vida, nunca tal tinha visto acontecer. A pasta de dentes que anda a uso cá em casa é uma toda apaneleirada. Sério. Alude àquelas coisas do não-faz-mal-à-saúde, é natural e (mais...?) saudável e tudo e tudo, a embalagem é em cartão, como as demais, as de sempre, mas pardo, que assim sempre vai parecer uma coisa de baixo preço, como se o fabricante buscasse reduzir preços no que é de deitar fora, não no produto.

Comprinha

Comprei uvas pretas, que julgo sem grainhas, mas, se as tiver, não faz mal, é descaroçá-las. É para juntar a pêras que comprei há semanas e figos que congelei há meses e demandar-me um grande, enormíssimo mesmo, crumble. 

a menina fez uma cópia

porque ouvi a senhora dizer que a erva-gateira relaxava os gatos e querendo registar o dito no blogue, pesquisei, retirando o texto abaixo daqui:


«Raro é o gato que não adora o cheiro da erva-gateira. Botanicamente falando, esta erva pertence à família das Lamiaceae. O nome da planta deve-se à enorme atração que provoca sobre os gatos sexualmente maduros. A resposta de cada animal varia de acordo com fatores genéticos e é fortemente acentuada em cerca de 50% dos gatos. Não apenas os gatos de apartamento se sentem atraídos. As ratazanas, pelo contrário, afastam-se do cheiro.»

Receitas

As receitas a experimentar são agora bastantes. A vontade de as fazer é pouca e, o tempo passando, mais revistas chegam e engordo o rol. O molho é tão grosso que tive que ir buscar uma mola mais larga. É um problema, esta minha vida, é verdade, é. Eis o ajuntamento às receitas que já constavam:

Bolo de Abóbora e Nozes
é bem capaz de ser um bolo com vários processos, um deles aborrecido, o de cozer a abóbora, mas um dia faço um bolo com este legume
Pãezinhos Recheados com Queijo e Alecrim
parece-me tão bem e tão bom...
Estrelas de Cúrcuma, Tomilho, Queijo da Ilha e Frutos Secos
vale pela diferença, se alguma vez eu me tinha lembrado de cúrcuma em bolachas, eu cá não!
Licor de Café
simplesmente para que na minha adega conste licor de café, isto porque, inspecionando a receita, verifiquei que se assemelha ao licor de whiskey
Brigadeiros de Ovo e Amêndoa
hum, só hum... e nem só um, homessa!

Não sendo estas receitas tão do aconchego quanto isso, a verdade é que constavam na Revista Lusitana que me chegou por alturas do Natal.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

De tudo o que é de rapar, nem tudo é de lamber.

Sou mulher para rapar o tacho do arroz-doce, a panela da sopa e a chávena de café. Esta última dá até para lamber.

Só pode

O coração bate-me na barriga. Isso é mais barriga que coração, só pode.

Juntinho, juntinho

A cliente mora junto à árvore amarela. Não rente, contudo. É também verdadeiro que o gato dela tenha vindo para o meu colo. Sem pré-aviso é costume nos gatos, sim senhoras e senhores, mas não quando, e se, o gato é arisco que se farta. A cliente ficou ciente de que sou uma pessoa dos lados dos bens da vida. Foi o que ela disse, muito embora não por estas palavras, que estas repesquei-as eu agorinha mesmo, só naquela.

Post de aparências

Aparentemente posso sentar-me em qualquer um dos bancos da rua mais bonita de Lisboa. Mas não, a chuva molhou os bancos, escuso de molhar-me eu. Talvez mais logo estejam secos, o que, para mim, será convite, mas, ainda assim, ai a porra das vírgulas, há restrições impeditivas de um simples 'jogar o cu abaixo' (é uma expressão da minha mãe).



acrescentamento sem porra de vírgula nenhuma: adoro como o filtro 'literário' do editor de fotos que o meu telefone contém transforma o verde da flora em geral num verde meio que abandeirado

sábado, 23 de janeiro de 2021

Ouvi na TV

Observer, écouter. Sans être vu.

Cantoria

Os vizinhos andam decerto assustados com as cantorias que faço quando em casa. Imagino, até, o de baixo 'covering his ears like a kid' e a fazer 'lá lá lá' como o puto da canção. A parte de o fazer sofrer horrores é que já não sei se faço, mas posso, também, imaginar. E depois há mais vizinhos – de cima, do lado, de cima e ao lado, ao lado e em baixo. Enfim, toda uma plateia. Outrossim imaginada. Oh, paciência.

🎤🎶

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Nem a máscara

Fui célere na resposta a um transeunte que inquiria acerca da morada do laboratório de análises clínicas. O tempo de lhe saber o nif já lá vai, é certo, mas ficou-me o número da porta e o nome da estrada que lhe dá acesso. Na sequência fui agraciada com um daqueles sorrisos que nem a máscara tapou. Pessoas. Pessoas, pessoas, 'migos. Pessoas.

Códigos

Havia, e há, o artigo FRT e o FTR. De maneiras que foi um problema acertar com a questão, principalmente ao depois de ter trocado as letras que os compõem quando copiei as informações que se lhes referem do canhenho manuscrito para o ficheiro. Se no canhenho havia posto o FRT no código 113 e o FTR no 726, no computador troquei-me em números. Depois acresceu que me movi no sentido de criar novo código porque me baralhei mais ainda (ah... como se fosse possível...) e idealizei que FRT e FTR eram um duplicado, uma de outra (ou bem que era FRT ou bem que era FTR, e o que eu havia feito era um outro tipo de confusão) e tive que ir buscar um raciocínio lógico aos bués para deslindar esta exaustiva questão. Só que não. Ah pois não. Ambos os artigos existem. Um é FRT e outro FTR. Olarila. Fiquei, então, ah caraças, até ponho vírgulas para pausar, com umas trocas todas amalucadas e um código a mais, que já não sabia qual as letras do artigo lhe eram correspondentes porque entretanto já estava tudo, digamos que, arrumado. Mas mal, óbvio. E um código a mais, id est: dois artigos, três códigos. Mas qual? Fui buscar calma para juntar à lógica. Sim, consegui terminar esta tarefa. E não vos vou dizer que a terminei agorinha mesmo. Não. Fiz uma pausa imensa, para aí de dia e meio, ou coisa no género.

Olá Diamantino

Pode ser Albertino mas prefiro Diamantino e acho mesmo que é porque já pensei uma beca acerca e fica até muito mais giro ser Diamantino porque o homem comercializava vidros e, para os aviar de acordo com as medidas que os clientes pediam, era, e é, preciso usar uma peça de ferramenta cujo corte é feito por um diamante.

Das frentes

Tirar na frente e pôr atrás, é como os pneus. Tira de trás para pôr na frente. Já nas prateleiras é diferente. Tira da frente, se vendes. Não tires de trás. Na frente estão os que chegaram mais atrás no tempo e é atrás desses que pões os que recentemente chegaram.

Barulhinho

Andava a ouvir um barulhinho metálico. Movia-me e ouvi-o. Intentei na descoberta e aconteceu-ma: era a folha (metálica) às turrinhas ao pingente (metálico) que pertence ao fecho (metálico).

Remanescência

Como se luzinhas de Natal mas é a chuva que ficou.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Sonho

Sonhei com uma mulher muito magrinha, muito alta, com ar de modelo. Envergava uma camisola com um padrão de ramagens. Corria e andava por ali, alegadamente procurando por alguém que queria destruir. E eis que dei com ela como sendo agente da Polícia. 
(Ah, destruir...? Então quer dizer que destruir era capturar. E este parêntesis são conclusões da, e na, vida real desta que vos escreve.)
Ouvi uma música densa, preenchedora, tipicamente cinematográfica, de quando as cenas são de grande ação e, ou, suspense. 
(Não sei que veio esta música fazer no meu sonho. E este é outro parêntesis daqueles.)
Apareceu um homem deitado no chão, subjugado por outros dois ou três, enormes. Aquele debatia-se, gritando: - 'Vejam, vejam! Eu sou normal!' - E apontava para umas ervas que ali cresciam, iguais às da camisola da mulher e, no meio daquela algazarra, pedia que lhe fizessem testes sanguíneos para provar que era uma pessoa normal, apesar de ter uma força diabólica. E que a mulher sim, a mulher é que não era normal.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

luz

O que vale é que vocês gostam de mim na mesma.

Em vez de estar sempre a pensar que era tão bom desaparecer da vista das gentes e tal e tal, troco esse pensamento por outros - penso numa luz agradável, sinto uma presença agradável, que serei, obviamente, eu, porque me encontro sozinha. Imaginar que faço bolos com prazer também seria bom. Só imaginar. Imaginar é melhor do que fazê-los, isto porque, realmente, não os quero fazer, mas a ideia de estar a fazê-los já me prazenteia. Eu que veja vídeos de pessoas a fazê-los, então. O prazer aí é verdadeiro e verdadeiramente sentido.

Se leio, se não leio. Se gosto de ler, se não gosto de ler.

«Gostas de ler?» é pergunta comum. «Gostas de escrever?» pois que não o é. O livro que o Gualter me emprestou está, ainda, na prateleira. O que vale é que não se cansa de esperar. Nem o Gualter mo pede, pois falta não lhe fará, presumo. Agora me lembro que desconheço o paradeiro do dito livro. Ah! Não, não sei onde anda.

+ é = a

Cor + Agem = CorAgem
Cor = Coração
Agem = Agir
Coragem = Agir com o Coração

primeiro ouvi algures esta ideia e quis registá-la à minha maneira sem pesquisar
segundo pesquisei e encontrei isto aqui

Um porta-chaves que balança numa porta castanha e um jogo de futebol a dar na TV.

Ah, isto é que é um abuso, hã? Desculpem lá umas horas destas mas há coisas que uma pessoa fica parva. Quando a porta está aberta, a lingueta sai toda. Pronto, faz de conta que isto é a lingueta. Portanto, quando a porta está aberta, a chave está aqui, dá a volta aqui, a lingueta sai toda. Quando chega aqui, com a porta aberta, dá o resto da volta e sai. A chave está aqui, não é? Dá a volta até aqui e sai toda, toda para fora, e com a porta aberta, e dá o resto da volta para se tirar a chave para fora. Depois, quando a porta está fechada, portanto, ela dá a volta daqui até aqui, onde a lingueta sai toda mas depois esta volta já não dá. Há coisas que uma pessoa... Agora o seu colega está ali a dizer que tem ali uma coisinha e por isso é que não passa bem. Mas o que é certo é que a lingueta, a parte que sai para fora quando a porta está aberta, e a volta que a chave dá, é a mesma que dá quando entra lá dentro. Depois não dá é para cima, mas quando ela está fora e que dá o resto, a outra meia volta, a lingueta já não sai mais. Que raio. Puxa! Quer dizer, estou a gastar um dinheirão, porque isto, esta senhora aqui de cima diz que ir lá abrir é que não. Já pus cadeado. Pelos vistos nunca desapareceu nada da arrecadação, o que é certo já duas vezes que está no trinco e à terceira vez deixou a porta mesmo aberta, nem a, nem a... Deixou assim aberta. Um bocadinho. Como quem diz, é a última vez que venho cá. Fui gastar um dinheirão e agora... Não dá. Ai mãe do céu, pá! É que ela tem uns netinhos... Se calhar nem resolvem nada. Se calhar estou a gastar um dinheirão e se calhar nem resolvem nada. Vamos lá a ver. Mas há coisas terríveis, quer dizer, ele por exemplo pôs aquilo e ficou tão bem, a seguir, vai para fechar a porta, cá fora, sai... Enfim. Que coisa mais esquisita. É mesmo muito esquisito, palavra de honra. É que se disséssemos assim: a lingueta depois, quando dá esta outra meia volta, sai mais, mas não, ela faz de conta que está aqui, e a lingueta já saiu toda! Só não dá é meia volta para cá para tirarmos a chave, mas a lingueta já não mexe mais. Uma vez cá fora a lingueta já não mexe mais. Ora se me deixa cá fora quando está a porta aberta, então quando estou de dentro o melhor é não mexer, não é? Enfim. 

Ao depois, a carismática cliente revelou, outrossim, que aquilo estando acabado ia comer uma tigela de sopa para não estar de estômago vazio quando tomasse um comprimido para a dor de cabeça. Nota que não ponho em rodapé porque a quero aqui: sim, o texto está tal e qual foi dito, eu tinha o gravador ligado, contudo, sem que a intenção primária fosse a de gravar o discurso da fogosa senhora, porém, já que ficou, pois que fique.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

olá, bem vindos a mais um blogue


 

é narcisa mas é sem filtro
tende ao equilíbrio. vá


 

Coisas

Desde o dia 12 de Novembro do ano transacto conservo, ainda, as seguintes coisas:

^^a pulseira de plástico em espiral
^^a amostra de fio (se calhar em algodão e decerto em) branco
^^a fita bordeaux que vinha na embalagem de bolso que comprei na pastelaria Philip's Biscuits
^^uma rolha de cortiça maior do que as de garrafão e que está muito mas mesmo muito envelhecida

Se comparar a lista, faltam as coisas, umas joguei no lixo e outras não, e entretanto acrescentei outras ao interessante e utilíssimo rol:

~~um saco de plástico transparente que amachuquei e dei nós em todo o comprimento, perfazendo cinco (5)
~~um porta-chaves com um carrinho feito numa madeira muito fininha e preso por um fio à argola
~~uma flor - não é uma! flor, é - a! flor


oh, ora essa, foi um prazer

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Lisboa, 18 de Janeiro de 2021

Confinamento. Lisboa não está tão vazia como em outras fases do género. Antes de mais: o meu confinamento é quase nenhum, o estaminé tem uma área pequena e o tipo de artigos são comercializáveis dentro do previsto pelas medidas do Governo. Por ora, claro, a coisa pode virar-se do avesso num repente. Mas olhem: estou aqui, qualquer coisa já sabem – ah vende-me uma vassoura, ah um litro de petróleo, ah um acessório de rega. Pronto, tipo isso assim. Interrompi o varrer do chão para debitar estes pensamentos, daí a vassoura ter sido o primeiro exemplo que tomei. Sério. Vou então tratar do resto.
E, de resto, a caixeira do supermercado está tão abrutalhada como dantes e o nepalês da frutaria continua a dispensar tanto frutas como legumes. Legumaria. Vislumbrem um emoji assaz feliz aqui, por favor. Pode ser aquele que mostra os dentes de tão sorridente. Obrigadinha. Comprei um alho francês e usei-o para acenar à dona Palmira, quando a avistei através da vidraça do escritório que a modos que encabeça, uma vez que está à recepção.

domingo, 17 de janeiro de 2021

Dos áudios

Gravo áudios naquela de não me esquecer de uma coisinhazinha ou outra que queria passar para o blogue mas às vezes esqueço-me dessas gravações. Quando são coisinhazinhas intemporais, pois muito bem, quando lhes acedo, mesmo que muito tempo depois, paciência, escrevo nessa hora/data, mas se somente dentro de uma temporalidade específica ficam dignos de registo, então, pá, fica esquisito. Estive agora mesmo de roda dos áudios com a intenção de eliminar os que já passei para o blogue (e que havia esquecido de apagar, alguns tinham um mês) e, por entre, lá estava um, lembrando um modo giro de desejar um bom 2021 aos leitores. Não é que tenha perdido uma oportunidade do caraças de falar com vocês - ainda por cima em modo mais do mesmo: (ah e) que tenham tudo de bom este ano que aí vem (e) que seja cheio do que considerarem ser do melhor para acontecer nas vossas vidas em dois mil e vinte e um (e mais não sei o quê) – é que, pela primeira vez na minha vida de blogger, não terminei o ano deixando este tipo de votos aos leitores. Não quis. Não quis porque não me apetecia. Apeteceu-me no dia seguinte. Pá, cenas.

Balanço

Entretanto pesquisei também qual o dia de maior acedência ao blogue no decorrer do ano passado, descobrindo que foi o dia 5 de Março, com 1149 visualizações. Este dia tem 9 posts:
Colo todo um rol de perguntas e respostas que tinha no caderno do momento. Porra, bem me lembro do tempo que tive de roda daquilo. É um post mais ou menos como este onde estamos (digo: vocês, os leitores, e eu, a pessoa que escreve este, e neste, blogue), compridão, demorado na produção e confuso pra caraças de construir.
Desenho um croqui para mostrar os caminhos que percorro em Lisboa. Realmente não tenho mais nada que me dê tanto prazer, é fundamental publicar posts desinteressantes e inúteis. Este é um daqueles posts em que me esfalfo e me baralho debalde, mas com os quais, estranhamente, me lambuzo. Carícia na própria pele...? Masturbação da mente...? Homessa, claro que sim!
Confesso-me saudosa dos bichos-gato. Na altura estava a viver o interregno por conta das obras em casa da senhora.
Mostro uma piadinha um tanto ou quanto despropositada que ouvi de um cliente. Contudo, por ter um quinhão de piada, pu-la no blogue.
Falo dos meus frios, há um que é triste que se farta e há outro que me sopra entre a pele e os músculos. Porra, que frio. Frios, quero eu dizer.
Digo-me com certezas. Certezas que partem de mim, ena, e de outros, hum. É um poema ou que raio é aquilo. Não, é um empilhamento de frases.
Tenho fome, é o anúncio que faço. E que como. Que como e que tenho fome.
Observo o meu estaminé de longe, do outro lado da rua. Na meia hora seguinte digito um texto, usando o computador de muita idade, nós dois dentro do estaminé de quase sempre. De onde observo o estaminé imagino-me lá dentro, e isto quando já estou dentro do estaminé. Não me aguento com a imaginação que de mim faço. Não é boa nem capaz. Se algum dia mudarei esta pensar...? Pois é, pois é.
Ponho a descoberto a valente epifania que ocorreu na minha vida – o tomar do pulso é um estetoscópio orgânico.

Balanço

No último dia do ano passado (2020) lembrei-me de ficar sabedora acerca qual o post mais lido acedido que o blogue teve. À partida, não tinha palpite nenhum, afinal escrevo em blogues há década e meia (completarei esta 'idade' somente em Abril próximo, mas pronto, começo já a contar) e sou abundante em publicações, ser-me-ia portanto difícil alvitrar qual seria. Pesquisando, descubro então que é um post que se chama 'porque escrevo num blogue?' (pode ser acedido e, até, lido aqui ) e data de 17 de Junho. Muito embora seja mulher blogger para já ter debitado este 'porquê?' umas quantas vezes em qualquer uma das moradas que possuí até hoje, a verdade é que desta vez a ideia não é primariamente minha, é um post em que fui numa corrente e, talvez por isso, tenha tido tantos acessos – 45. Teve também, oh glória terrestre!, um comentário. Quero dizer: dois. Ena! Este assunto faz-me sempre ter vontade de comemorar. Só por dizer que um dos comentários é meu, em resposta à valente comentadora.

Balanço

posts por ano:
2016 – 2432
2017 – 1570
2018 – 1453
2019 - 1830
2020 – 1958

9243 no total

média de posts por dia
2016 – 6,65
2017 – 4,30
2018 – 4,00
2019 – 5,00
2020 – 5,35


estes números, sendo um gráfico, pareceria um vale
a continuar assim, em 2021 subo mais um pouco

sábado, 16 de janeiro de 2021

Esta semana

Esta semana estive feita uma desavergonhada. Cheguei à casa dos senhores e nem pedi licença para pôr o telefone a carregar. Cheguei à casa da senhora e nem pedi para entrar. Cheguei ao consultório do senhor doutor e nem pedi para ir buscar uma cadeira e quando me deitei na marquesa pus-me logo a tirar aquela rodela que deixa respirar. Ah, e rasguei o papel protector com essa forma redonda. É que o papel também não deixaria respirar. Ficou um trabalho bem acabado, certinho, igual ao buraco, nem sei como consegui tal proeza.

rosa-choque

Nos meus registos está um pedaço de embalagem rosa-choque, como a (a modos que) alcachofra, cujo conteúdo é um gel de banho, um sabonete líquido e um creme de mãos, todos três com cheirinho a frutos vermelhos, daí a chocante cor, ah ah, e letras a dizer que são 'baies de minuit', que traduzindo para português diz então que são 'bagas da meia-noite'. E acho que com a meia-noite é que a cor já não combina, mas.

coçadela

estou tão magrinha mas tão magrinha que quando a coçadela me é necessária na pele por sobre as costelas toda eu me horripilo

confinamento

os bebés trazidos do primeiro confinamento chegam por estes dias

cobertorinho

chega-se (-nos) foto há muito pedida
eis o cobertorinho*
vem numa perspectiva rebuscada, mas, e, vá

*...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Lisboa, Lisboa

Lisboa às direitas é assim:
Penha de França; Poço dos Mouros; Carvalho Araújo; Abade Faria

Lisboa, Lisboa

Vou na avenida tal-e-tal, cheira a ganza. Chego à rua sei-quê, cheira a ganza. Viro à esquerda, cheira a ganza. Meto pela rua quente, cheira a ganza. Corto mais à frente, cheira a ganza. Percorro a avenida e noto uma loja especializada em produtos de (ou com...?) cannabis. Eh pá, a sério, mas que merda vem a ser esta?!

Lisboa, Lisboa

Meti pela rua que faria o percurso ser maior porque tinha o tempo a sobrar e o sol se mantinha nuns quantos muros e em partes do alcatrão e também da calçada.

Três anos

Kit e Kat, a fazer parte da minha vida há três anos. «Um lambeijo do Kit e um piscar de olhos da Kat», disse a senhora.

Lisboa, Lisboa

Há trinta e cinco anos eu descia aquela rua com sapatos vermelhos e saias travadas. E ao fundo o Tejo, sim.

Perguntinha

«Já viram a ganância com que cheira a gasolina?»
Perguntou o Xano ao mundinho que naquele momento o rodeava. Aparentemente (para mim, e é decerto para o Xano que) a ganância cabe na intensidade de um cheiro.

Alcachofra de cor diferente

Aqui há tempos comprei uma fruta lindíssima. Os tons eram de rosa-choque e a aparência era a de uma alcachofra. A casca era mole e, após a remoção por partes (precisamente como a das alcachofras), havia outra em género película (tipo maçã, vá) e a polpa mostrou-se-me branca com sementinhas pretas. Reconheci então a fruta, uma vez que já a vira (por exemplo) a ser usada em vídeos de culinária. O sabor é que não acrescentou nada de bom. Nada. E, se digo nada, é porque sabia a nada, era insípida. Mesmo. Mesmo nada. Enfim, é de não repetir. Pode ser que tenha tido azar na escolha da peça ou então na época em que me aconteceu o apetite para comprar esta fruta, mas pronto, é bem provável que não a volte a comprar.

De segunda a sexta.

É segunda-feira, está um frio que não se pode.
É terça-feira, está um frio que não se pode.
É quarta-feira, está um frio que não se pode.
É quinta-feira, oh porra, está um frio que não se pode!
É sexta-feira. Está frio, pronto. Dia primaveril, no aspecto que (me) mostra, mas, oh porra, está um frio que não se pode!

Graminhas

Oitocentos e vinte gramas de maçãs gala
Quinhentos e cinquenta gramas de maçãs granny smith
Setecentos e vinte e cinco gramas de batatas-doces
Duzentos e trinta e cinco gramas de alhos
Setecentos e sessenta e cinco gramas de cebolas

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Lisboa, Lisboa

O mar começa, portanto, no Jardim Fernando Pessa. Rima e tudo. Imaginei aquele '9°C' a ser referente à temperatura do mar. Ou do ar. Mas não é, óbvio, é o registo da turma que tratou de criar esta obra de arte. De que escola ou de que ano é que não diz. Talvez diga lá à frente, no mural. Se me lembrar, em outro dia, certifico-me.

Lisboa, Lisboa

Foto com filtro demarcando algo que já esqueci. 


Entretanto lembrei-me que o que queria demarcar era a declaração. Cortei-a e deu nisto:

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Tarefa

Passar as fotos que estão no telefone para a pen para depois imprimir e finalizar aquela porra dos registos parvos o suficiente para que ninguém os vá ler enquanto me durar o batimento cardíaco.

Íamos, lá isso íamos.

Descia a rua fria uma mulher já velha. Subia a rua fria uma mulher quase velha. Uma para a outra: meras transeuntes que se cruzariam dali a nada. Queixou-se a primeira do frio. Anunciou a primeira que vinha agasalhada 'mas'. Ouviu-a a segunda. Sorriu-lhe a segunda. 
Conclusão:
Tenho que deixar de ser muda. Enquanto durar o uso das máscaras, tenho.

Sonho

Sonhei que a rua do estaminé tinha alcatrão novo. Liso e confortável... Que maravilha! E que sonho. Tinham até acabado com os dois declives que a rua tem em plena calçada. Ena. Pois, agora me lembro, não sendo sonho, acabar-se-ia a calçada da 'minha' rua. Mas pronto, aqueles declives tinham desaparecido completamente e até comentei (no sonho) com o meu colega, que também ficou deveras satisfeito. Entretanto, em certa parte do sonho, notei que o prédio ao lado tinha três portas enormes, pintadas em bordeaux. Uma substituía a porta propriamente dita, mas assustadoramente aumentada, as outras faziam as vezes das janelas do rés-do-chão, mas em porta, como já se havia percebido. De dentro, ninguém assomou de nenhuma dessas portas, o que me deu a sensação de vazio lá dentro. Às vezes o vazio de dentro, passa para fora, lembro eu agora, na realidade que é a (minha) vida.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Foi preciso andar na rua

Vai a segunda quarentena na sua preparação e quis o destino que eu vivesse mais uma situação de balcão um tanto ou quanto sui generis. Telefonou o vizinho da frente, que não podia sair de casa devido a uma intervenção cirúrgica sofrida havia uns dias e havia todo aquele esquema a cumprir, se não me importava de falar com ele da janela, que queria uma coisa tal e tal, que mandava amostra pela janela, que eu tendo igual ou semelhante ele descia para recolher já com o montante previamente acordado e mais não sei o quê. E eu:
Ó senhor engenheiro, então não? Claro que sim!
E toda eu me preparei física e psicologicamente para viver a tal peculiaridade. Avistei-o da soleira da porta do estaminé, de telefone ao ouvido. Atravessei a rua, eu também com o telefone no ouvido e, antes que ele se lembrasse de jogar a amostra sem me ver e me aterrasse a dita no meio dos chamiços, avisei que me ia chegar para o lado e ele que pumba. E ele pumba. Depois seguiu-se o comum dos meus dias, mas quando debaixo do tecto do meu estaminé, não no meio da rua, id est: escrutino a amostra, reconheço-a e vou buscar igual. Só que esta ida, bem como toda a transação, para acontecer, foi preciso andar na rua. Sou portanto uma espécie de vendedora ambulante.

Enfeites

A funcionária da loja de roupa interior colocava uns quantos enfeites ao redor da porta. Ia ficar bem. E bonita. Nunca enfeitei o estaminé considerando, depois, que estava bonito. Nunca o chamariz do estaminé foi o encanto por mor do 'bonito' que...
mantenha
imponha
atire
pareça
… aos transeuntes. Não sei como me daria numa função de tornar algo bonito e cativante. Num repente, parece-me que não me daria nada bem e que logo seria, no mínimo, destituída dessa tarefa, mas, seja lá como for, nunca pensei que o balcão fosse o foco principal da minha vida profissional, portanto...

Olá, o meu nome é Gina. Sejam todos muito bem vindos.

(se me safo com esta apresentação tão corriqueira? homessa, claro que sim!)

Janeiro

Decidi ir dar uma espreitadela ao jardim, não vá as florzinhas brancas com laivos avermelhados escolherem o Janeiro para aparecer, ao invés do habitual Fevereiro, sei lá se morro entretanto. Mas não, todas despidas, as árvores. 

Janeiro

Janeiro é mês de saldos, por isso recebo mensagens aos montes com convites para visitar lojas de pronto a vestir. Isto uma pessoa inscreve-se nos cartões-cliente porque foi levada a isso, quiçá desconto mediante inscrição aquando daquela mesmíssima compra e depois já fica, pois quiçá ficará aliciada pelas promoções vistosas no futuro, quiçá esse futuro jamais chegue, quiçá outra merda qualquer. É certo que posso anular o recebimento mas, como só me lembro de o fazer precisamente quando as lojas me convidam a lá ir, esse corte fica sempre para uma posteridade mais desafogada de tarefas, ou uma em que tenha efectivamente vontade de pôr um fim àqueles recebimentos a modos que inúteis. Mas olhem que é, Janeiro é o mês dos saldos de roupas e assim.

Balanço

Em 2020 publiquei 72 posts com a etiqueta 'o meu colega' e, desse número, 0 têm comentários. Ele não costuma ter dificuldade em fazer as pessoas falar, mas talvez por estar debaixo desta manta onde quem se enrosca é esta que vos escreve, afinal, tenha toda a influência do mundo.

Palpite

O meu colega, logo ao início do ano, lembrou-se:
- 'Hum, qual será o primeiro vendedor a visitar-nos sem aviso e sem ser para entregas?'
Palpitei e vocalizei o palpite, que se revelou certeiro. Sim, o primeiro vendedor a aparecer no meu estaminé em dois mil e vinte e um foi esse mesmo, foi.

bolo-rei
(ainda vale, pois vale?)

Ouvi um diálogo na avenida, do qual só transcrevo uma das partes:
Oh, there's the bolo-rei!
De notar que o 'bolo-rei' foi dito numa pronúncia portuguesa. E, por sinal, contente e entusiasmada com o casual encontro.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Gina, pensa para contigo; pensa bem:

Tens mesmo que andar com tantas canetas?
Não.
Qual é a cor que supões que um dia te faltará?
Encarnado.
De carne?
De carne.

Haver, há.

Há camomila no creme de mãos que mantenho no estaminé. Há uma flor dessas na embalagem de creme de mãos que mantenho no estaminé.

domingo, 10 de janeiro de 2021

10 de Janeiro*

4 Janeiro 2021
É melhor silenciar o blogue. Silenciar-me, quero eu dizer. O importante é silenciar-me, não propriamente o silêncio. Escrever é uma alavanca, um trampolim. Não é parvoíce nem exagero dizer que escrever me salva, é a verdade. E, se me salva, então eu que não pare. Só que às vezes não me apetece publicar os escritos, e é isso o que por ora acontece. Vai daí, mantenho o diário secreto *até que assim o queira.

5 Janeiro 2021
A cadela chegou do passeio e estacou junto ao prato da comida. Moveu a cabeça na minha direção e ficou a olhar-me, esperançada. Notei que o prato estava de resto, tinha lá dentro uma meia dúzia de pepitas de ração, de maneiras que a encorajei:
Então Olívia, que é isso? Não vês que tens comida no prato? Que esperas tu?
Fosse a minha cadela humana e este seria o momento de uma resposta vocal mas, não sendo, continuou a olhar para mim sem reservas de qualquer espécie. Não fiz caso e ela sucumbiu à escassez – melhor meia dúzia de pepitas do que zero pepitas, né? Eu não digo que a minha cadela seja esperta, mas também não digo que não é.
É Janeiro. É tempo de as árvores da avenida apresentarem as suas folhinhas minúsculas. Aqui no lbogue... ai perdão, blogue chamo-lhes penugem. Todos os anos venho cá dar a novidade. Pode este blogue estar pejado de repetições? Pode, claro que pode. Tenho para mim apenas uma regra: escrever do mesmo mas não o mesmo. Só não sei se a cumpro. 

6 Janeiro 2021
Ao almoço estava no restaurante um senhor (outro que não este aqui) que falou muito com o meu colega acerca das peripécias que 'um gajo faz quando é novo' e mais não sei o quê. Este compincha de que falo não é o mesmo que há tempos apresentei no blogue, ai não é não, só que este aqui me fez lembrar esse dali. Então, no meio daquela balbúrdia de frases saudosistas, imaginei-me numa mesa de quatro - eu (óbvio!), o meu colega (hum), o primeiro senhor deste post (oh não...) e o senhor repescado do outro post (vá, pode ser...) – a gente todos a conversar em cruzes, o meu colega com o senhor nº1 a mandar as larachas e a rir aos bués, eu com o senhor nº2, sendo que nós falávamos entusiasticamente (por exemplo) de robótica ou aquacultura, passando (ainda, e um nadinha) pela política e futebóis, não afastados de pleno saber desses meandros. E pronto, era isto. Uma pessoa, quero eu dizer a! pessoa que escreve neste blogue às vezes ficciona uma beca.

7 Janeiro 2021
Há largos meses que não vejo a senhora. Na verdade pode parecer que a conheço, mas não, não se conhece alguém só porque se sabe quais são os livros que mantém na sua mesinha-de-cabeceira.
Lila, a cadela do corpanzil, chegou da rua. Quando é assim já sei: antes de me cumprimentar há que beber a litrosa do costume. Vá, passa, vai lá beber a tua águinha.
Miau, o gatinho amarelo, fez girezas:
Enfiou-se na máquina de secar – foi um problema tirá-lo de lá e, na verdade, não tirei, lembrei-me que, bazando, o levava a seguir-me, porque este bicho não é cão, mas segue-me amiúde
Lavou as orelhas – Lá está, segue-me. Eu enchia o balde debaixo da torneira da cozinha e ele empoleirou-se para observar. Porém, não contente com somente isso, espreitou a fundo, enfiou a cabeça para cheirar (acho que a água) e eis que pumba! O jacto estava no caminho, depois sacudiu-se e ficou pronto para o resto.
Intentou o impossível – 'Já não cabes debaixo do carrinho que desliza, Miau', avisei. Vezes houve, num passado próximo e quente (Verão 2020) que era com mil cuidados que retirava o carrinho do lugar, isto porque uma vez quase o trilhei.
À parte – Caraças, até parece que quero mal ao bicho, ele é pisá-lo, ele é fechá-lo na despensa e nem ligar ao pranto, ele assustá-lo propositadamente.
E, por falar em deslizar, nem só de bichos estou acompanhada. Há semanas que uma máquina fala comigo quando a deslizo para limpar lá debaixo. Ao repô-la, diz-me assim: 'Charging'. É categórica no tom e não permite retórica (ah... era só para rimar, mas ficou bem). Sim, digo dizer de falar, de voz. Eu explico, é um robô que aspira a casa mais ou menos sozinho e que tem um retiro onde se abastece de energia. Ora, o que faço quando a deslizo é, precisamente, retirá-la do retiro. Não, do posto de abastecimento. Contudo, desta vez, eis que o robô se resolveu a circular mais do que o seu costume. Como não sei o que fazer para acelerar o processo, pus-me atenta, não fosse ele para outra banda. Mas não, qual quê, aquilo tem um sinal forte, até ensina a estacionar. Fiquei a ver o robô a fazer as manobras necessárias, voltava atrás, rodava, ia para a frente. Enfim, todo um rol de ensinamentos que tive, eu que sou uma naba do caraças a estacionar o meu automóvel de matrícula portuguesa... 

8 Janeiro 2021
Aí acima, a digitação do primeiro 2 de 2021 o dedo escorregou-me e acrescentou um 1 logo seguido desse 2, perfazendo um assombroso, e até absurdo, ano de 21021. É curioso como um futuro com 19000 anos é inimaginável, lembrei-me eu.
A árvore amarela, vergar, não verga, mas está mirrada, tal o frio destes dias. O banco hater ainda é cinzento, a casa azul é azul e a cor-de-rosa é cor-de-rosa. A planta à janela estava à janela e os plátanos de grossíssimos troncos são ainda os maiores que conheço em Lisboa. Esta Lisboa de 2021. Não sei se repararam que tenho uma nova etiqueta no blogue, a 'Lisboa 2021'. Estipulei o ano passado, pelo Janeiro, que agruparia as Lisboas por anos, daí a novidade. São até bastantes, os posts acerca de Lisboa, por isso achei giro separar os anos. Acima disse que agruparia as Lisboas, aqui digo que as separo. Oh.

9 Janeiro 2021
Durante dois ou três meses copiei umas quantas perguntas de entrevistas que fui visionando e gravei um vídeo a responder-me. É giro. Planeio um dia responder também em modo escrito e colocar aqui no blogue. Tenho é que deixar passar um bom bocado de tempo – para aí dois ou três meses, vá - tem que já estar tudo arrumado no esquecimento para que não me copie. Receio um pouco que confessar que copiei algo - neste caso: as tais perguntas - me faça parecer uma pessoa de má índole, ou, no mínimo, rebuscada, mas, na verdade, copiar tudo e todos não é o que mais se faz? É. E quantas vezes sem se dar por isso. No fundo no fundo – a repetição é propositada – difiro dos demais, se afinal copiadora me confesso.

10 Janeiro 2021
Vi paisagens bonitas mas não tive vontade de fotografar nenhuma. Uma paisagem mostrou-me um céu azul em fundo, ao perto uma correnteza de caniços com plumas adejando e, de permeio, uma árvore nua. A árvore recortava o céu e os caniços mais suas plumas também. Uma longe, outros perto e, de poesia acerca disto, não sei. Tivesse-la sentido e teria vontade de fotografar? Também não sei.

sábado, 9 de janeiro de 2021

9 de Janeiro

Falo das fotos que tirei durante os dias em que emudeci. Portanto: contrario-me.


Esta foto aconteceu porque considerei ser de maior (sei lá o quê, qualquer coisa em maior, pronto) fotografar um dos meus manuscritos, nomeadamente um de que já tinha falado no blogue. No outro dia, num podcast, a entrevistada, ligada ao mundo da culinária vegetariana, contou que aquando da sua primeira publicação literária quis o livro com uma aparência limpa, optando por pouquíssimas imagens. Entretanto, na publicação seguinte, tendo percebido que o livro já editado lhe parecera pobre, nessa segunda vez incluiu mais imagens e percebeu que as pessoas gostavam bastante de ver o aspecto que a comida poderia vir a ter. Não é que a ideia para este clique tenha aparecido por conta do que ouvi naquele podcast, aconteceu foi que, precisamente por o ouvir é que me lembrei que o principal intuito deste meu clique foi proporcionar mais 'visibilidade' ao apontamento que fiz no caderno do momento.


Tempo de recomeço, é o que qualquer Janeiro é. Enfim, a malta viaja, junta-se, convive, ri – e come e bebe, já agora - durante quase todo o Dezembro e depois eis-nos no trâmites mais comuns dos nossos dias. Ora bem, passa o ano e o calendário, que geralmente se mantém por anual... Pá, cá no estaminé ainda não chegou nenhum que atravesse dois anos. Ou mais. Bom, seja lá como for, se queria a coisa nos conformes em termos de datas, e quis, desfiz o estandarte que mantive durante todo o dois mil e vinte. A foto mostra o 'Dezembro' livre de ímanes porque, a cada mês que passava, eu rodava-os em maneiras de libertar o mês que acabara de chegar. Ora, como isto foi uma parte importantíssima da minha vida e esta maneira de marcar o mês corrente é manifestamente original, então vá de fotografar para congelar tudo isto, permanecendo, assim, eternamente, ai a porra das vírgulas, na Internet. Ou enquanto a Internet for viva, pronto.


Este clique não pertence a este dia (6 de Janeiro), antes ao anterior (5 de Janeiro, óbvio), mas, como a minha mãe faz anos a 6, e uma das cores que sempre lhe vi na admiração é o vermelho, então pronto, fotografei uma manta vermelhona. Foi até ela que ma ofereceu.


Finalmente fotografei este trocadilho cheio de piada. Já havia duas ou três vezes em que por aqui passava e encontrava um piadão neste este dizer, se, para mais, inscrito num caixote de lixo. É que é mesmo irónico.


Fotografar este cenário não foi vez primeira, bem sei que o blogue já conta com umas quantas entradas. Contudo, jamais saberei se tenho esta perspectiva publicada no blogue, só por dizer que... P'ra qu' é qu' iss' int'ressa, né? É. Interessa-me é, e muito, que repita, aqui, neste mesmíssimo blogue, que os dois pinos estão alinhados. Tempos houve em que me dispus a contar quantos passos iam do banco hater até esse alinhamento, descobrindo que era ali assim para os lados do semáforo que nos remete para o Ministério. Isto se num todo, digo: nós, porque eu, já se sabe, remetia-me, e remeto, para a obra de arte que veio do antigo e extinto Teatro, ou então para aquela árvore que está descabelada, por assim dizer, de um dos lados. Parece que lhe foi raspada a folhagem devido a algum vendaval que soprou de um só lado, ou coisa assim. E olhem que esta contagem de passos não aconteceu no tempo deste moderníssimo telefone que agora mantenho, dantes não tinha à disposição esta paneleirice de contar passos, aqueles fui eu que os contei mentalmente. Se não tinha mais nada que fazer...? Pá, não. Que naquele momento me aprazasse tanto, não.

domingo, 3 de janeiro de 2021

se no e se no

Se no caderno limpo o bico da caneta rodando-o no caderno.
Se no blogue não há caneta nem bico nem tinta nem sujidade.

Chá(s)

O Luís largou a rir quando lhe pareci aliviada por o chá de funcho estar quase quase quase a terminar. Não gosot... ai perdão, gosto lá muito daquilo, não. Mas fiz chá de erva-príncipe. Dispu-lo em duas chávenas iguais em padrão e em cor de fundo mas com as seguintes diferenças: onde uma é cor-de-laranja a outra é amarela (caraças, outra vez esta junção de cores?!) e onde uma é creme, a outra é cor-de-laranja.

Spotify

Apareceu no Spotify da rica filha e ela mandou a nova. A miúda era admiradora. A mãe da miúda também. E assim se continua, nós por cá. Se bem me lembro, no carro, era o volume nos vinte e tal. Mais ou menos no mesmo volume com que ainda hoje ouço as canções quando as gosto muito, só por dizer que já há muito tempo que esses números não acontecem com estes acordes.

O vermelho é meu.


Ar. De tanto, oprime.
O ar é tanto que oprime.


3 de Janeiro de 2021

Hoje é 3 de Janeiro de 2021. Foi no dia 1 que vi uma papoila. Fiquei admirada mas esqueci-me de registar a tremenda admiração com que tive que lidar. Sim, muda o ano e continuo dramática, mas todos sabemos, ainda, que vocês gostam de mim na mesma. Entretanto tenho vindo a notar que aquelas flores primaveris - as que são amarelas mas ao estilo malmequer e as lilases que por sua vez são de um estilo que não sei a qual flor comparar - já andam aí há semanas. Fiquei admirada com o avistamento da papoila, pois fiquei, mas menos do que ficaria se não tivesse já avistado as tais primaveris.

sábado, 2 de janeiro de 2021

Lavor

Se não é filigrana, é então uma renda ou um bordado. Se escolher bordado, posso chamar-lhe 'ponto richelieu', mas em desgovernado, como se feito por aprendiz.

2 de Janeiro de 2021

Quis dizer aquela piada de 'o ano ter tantos dias quanto orelhas tem um homem' mas troquei-me e disse que o ano tinha tantas orelhas quanto um homem. A partir daí disse a piada outras vezes mas a enganar-me deliberadamente. Não sei quantas vezes a repeti, mas foram mais do que duas orelhas.

2 de Janeiro de 2021

Vai o ano com dois dias e já me meto a meter coisas no lixo. É uma meia sem par, a de losangos amarelos e cor-de-laranja. Há semanas que a olho, tão sossegada, remetida ao canto do parapeito do meu quarto, e sem par. Esperava encontrar-lho. Sei lá, debaixo da cama, num canto da casa, no cesto da roupa suja, dentro da máquina de lavar. Enfim. Esperei o tempo que achei necessário. Não encontrei a meia e digo adeus à outra meia.

dois pontos

desejo irrealizável:
seria tão bom...

dois pontos

dúvida:
será que...?

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

cinco

Ao nome Verde Água ninguém liga. O meu blogue figura em alguns blogues. Poucos, mas alguns. Imaginem um blogue qualquer com uma lista de links na vertical. As pessoas que lerem o título Verde Água vão pensar que é mais um blogue daqueles ecológicos. Chatos... Ui! Para que é que fui chamar verde ao meu blogue?! Um dia que crie outro vou ser original no nome. Pintinha Azul, é giro. Pintinha de escrever. Pintinha do i. Azul de escrever. Azul de tinta de caneta. Escrever à mão. Rasurar. Voltar atrás. Escrever de novo mas diferente. As rasuras, as palavras ao monte, como se paragens para pensar fossem. Paragens para escrever melhor. Espontaneidade, sempre. Este post é muito espontâneo e nem estou a escrever à mão. É, Pintinha Azul, é giro.



este blogue completa hoje cinco anos
mil oitocentos e vinte e sete 'dias duma grafómana'
para registar o dia deixei acima um texto com dez anos
é de quando usava de grafomania noutra morada

Pá, cenas.

1 de Janeiro de 2021

Sol aberto e chuvadas vigorosas. Intermitentemente. Se augura (ou determina) o resto do mês em termos meteorológicos, então pronto, já sabemos.

🥂

post com título de um tchin-tchin em modo emoji ao vinte|vinte-e-um