sábado, 28 de dezembro de 2019

A voz

Daquilo dos áudios (e este post é todo ele um apanhado de áudios que fui fazendo ao longo das últimas semanas, cujos tópicos desenvolvo), devo dizer-vos que não faço nem por sombras todos os que gostaria, mas faço alguns porque obviamente gosto de os fazer, ir caminhando e falando sem causa ou coisa de valor a empurrar-me. Confesso que me envergonho um pouco do que estou a fazer, se me cruzo com pessoas, mas continuo. Se for observada de longe, é na boa, qual vergonha qual quê, mas continuar discursando despudoradamente aquando do cruzamento com alguém é do caraças.
Qual é o segredo para ir na rua falando para o telefone sem sentir embaraço nenhum? É colocar o olhar no infinito. No fundo é fazer como faço com os pensamentos ruins, é colocá-los num espaço sem fundo e informe. Au eva, vejo que algumas pessoas me olham de soslaio e com estranheza. É que mesmo colocando o olhar no infinito, vejo. É aquela coisa da visão periférica, vá.
É incrível o número de pessoas que conheço devido à profissão que tenho, há umas (muitas, até) que vejo de longe em longe, quantas vezes se passam anos sem que as reveja. Se isso acontece na rua, é comum essas pessoas não me reconhecerem – porque, lá está, passou muito tempo desde a última vez que me viram, porque não estavam a contar ver-me na rua e a minha figura afigura-se-lhes (ai, esta redundância tem que ficar!) inesperadamente, e precisamente!, na rua e, portanto, numa circunstância diferente, ou pode ainda ser porque estou um bocado mais pó fino e assim... Lembrei-me disto porque avistei uma cliente e, quando percebi que ela não me ia cumprimentar, precisamente porque não me reconheceu, não me quis pôr naquela personagem que cutuca pessoas, para lhe dizer: olhe, lembra-se de mim? É um bocado parvo a gente pôr-se a cutucar alguém, achoq eu aí se está na iminência de levar uma tampa, e isso dói. Uma vez estive em casa dessa senhora e, da sua varanda, admirei toda a extensão da grande avenida lisboeta, tenho quase a certeza que se avistava até o Tejo, o varandim do Zé sei eu que se avistava. Tirei fotografias e tudo, a senhora até me havia incentivado a isso. Aliás, a senhora fez mais, ficou comigo, as duas lado a lado, admirando a cidade, ela não com a cara de deslumbramento que eu tinha, pois claro, afinal tem tudo ali ao pé, é aceder à sua enorme varanda (aquilo mais parece um terraço) e pôr-se a jeito de ver. Sei que pus as ditas fotografias no blogue, presumo que o anterior a este, mas ir buscá-las é difícil e demorado.

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